terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Beco do Cemitério (Sandro e a Assombração)

I
Meu nome é Sandro e eu vou
Contar um caso a vocês
Que aconteceu comigo
No'ano de noventa e seis.
Só não digo a data certa
Por não me lembrar do mês.
II
Um amigo certa vez
Comentou comigo assim.
Disse que um beco que tinha
No bairro do Alecrim
Ficava "malassombrado"
Depois da tarde ter fim.
III
E eu, que achava ser "pantim"
Toda história de terror,
Não fiz questão de saber
Nem o grau nem o teor
De verdade dessa história
Que lhe causava temor.
IV
O tal beco assustador
Margeava o cemitério.
Pensei, então que a história
Só era levada a sério
Por causa desse detalhe
Que sempre atraiu mistério.
V
Por sempre achar deletério
Dar crédito a tal conteúdo,
Passava sem ter espanto
Pelo beco, e via tudo
Como uma grande besteira
Sem comprovação e estudo.
VI
Só que um dia eu fiquei mudo
Ante uma situação.
Já tava tarde da noite,
Não havia um só cristão
Na rua e eu inventei
De caminhar sem razão.
VII
Só por obstinação
Fui ao bairro do Alecrim
Pra tentar achar no beco
Alguma coisa de ruim
Que era pra'eu zoar com ela
E sair rindo no fim.
VIII
Porém não foi bem assim
Que o negócio aconteceu.
Eu não sei por que razão
Um grande medo ma deu
Quando eu avistei o beco
Na escuridão do breu.
IX
Alguma coisa correu
Com extrema rapidez
Do meu lado; e eu senti
Que àquele dia do mês
Eu veria um "malassombro"
Lá pela primeira vez.
X
E eu "nem conto o que ele fez"...
Ficou dando cutucão.
Mas só que ele era invisível
E eu fiquei sem condição
De pegar aquele "bicho"
Naquela provocação.
XI
Eu quis pegá-lo "de mão"
Muitas vezes, todavia
Foi inútil, que o danado
Sempre escapava e fazia
Que eu insistisse sem êxito
Naquela idéia* vazia.
XII
Então, já por rebeldia,
Eu decidi agredi-lo
Com palavras ofensivas
E ele não gostou daquilo,
Resolveu aparecer
Por já estar intranqüilo*.
XIII
Outro espírito sem estilo
Apareceu pra'apartar
O combate que ali mesmo
Estava pra começar.
Um ringue desceu do céu
E a gente "pegou brigar".
XIV
Esse veio pra julgar
Aquele embate medonho
Entre eu e a assombração,
Que aquilo não era um sonho,
Era uma coisa real
Que hoje a contar me disponho.
XV
Só sei que "topei" com'o Tonho,
Meu amigo e camarada,
No outro dia bem cedo
E eu tava co'a cara inchada.
Disse que briguei com'o Cão,
Mas ele não creu em nada.
XVI
A briga foi "da pesada",
Mas dá pra ver que eu ganhei,
Inda tô vivo... Mas quem
Não quer crer no que eu contei
Quando o vento der açoite
Por volta meia-noite
Vá "no" beco onde eu passei.


* Não sou a favor do Novo Acordo Ortográfico.

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