quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O País dos Desgraçados

O País dos Desgraçados

1
Se tu que me estás a ler
Gostas de aqui conviver
Com todos ao teu redor...
Se prezas este país
E alto bradas: “Sou feliz!”
Vertendo sangue e suor...
2
Se te animas, apesar
De não cansares de achar
Motivos pra dor e choro...
E se, a despeito de tudo,
Confessas que inda és sortudo
Neste país sem decoro...
3
Perdoe-me a indiscrição,
Mas minha revolução
Está prestes a florir,
Não posso conter-me agora
Vendo uma pátria que explora
Quem quer ter razões pra rir.
4
Se não concordas, não leias
Esta que me flui das veias
Como lamento e revolta.
Se não suportas ouvi-la,
Fecha, que a voz intranqüila
Trar-te-á reviravolta.
5
Mas, se puderes sentir
Da voz o santo elixir
Da verdade a transbordar,
Permite que esta te faça
Descortinar a desgraça
Que apodrece este lugar.
6
Um político desgraçado,
Nojento, “desinformado”
Acha-se em qualquer setor.
É a desonesta mão
A chafurdar a nação
Na lama do seu torpor.
7
O que somos neste mundo?
Flores num chão infecundo,
Ou chão fecundo sem flores?
Ó justiça tarda e débil,
Não vês o soluço flébil
De humildes trabalhadores?
8
Se pela morte se implora,
Mas a mesma se incorpora
À revel morosidade.
Preferiria morrer
Que ter que viver pra ver
Tamanha insalubridade.
9
Eis um país sem futuro,
De proceder vil, impuro,
Insalutar e tirano.
Quem ousará lhe dizer
O que deve ou não fazer?
Oh! Quem será esse humano?
10
Clamarei a vida inteira
Pra que Deus, de tal maneira,
Possa agir neste país
Morto, podre, putrefato,
Fedido, onde anseia o rato
Nutrir-se de vermes vis.
11
Quis dizer coisas serenas!
Já quis dizer coisas plenas
De prazer e de elogio!
Mas, ó país desgraçado,
Achas-te desfigurado
Pelo teu gênio arredio!
12
Querias que eu comentasse
O quê, diante da face
Do teu vil “corrompimento”?
Encontra-te satisfeito,
Ao meu manifesto afeito,
Pois teu “estado” é nojento!
13
Pus verte do coração
Do teu corpo de ladrão
Dos sonhos dos pobres fracos.
És a seiva que corrói
O caule e o fruto destrói
Pra deixar o tronco em cacos.
14
Não tenho bens monetários
Pra, com dons pecuniários,
Comprar-te a “falsa verdade”.
Queres a propina vil.
Tu não és meu, meu Brasil,
És o chão da’impunidade!
15
Ri do teu povo sofrido.
Ajuda ao falso oprimido.
Dá comida a quem te espanca.
Ó chão ingrato e revel,
Nutre o teu gozo cruel
De quem teus desmandos banca!
16
Tua cela é pra teu povo.
Tua morte é pra o mais novo
Honesto que aqui chegar.
Queres me matar, ó chão,
Repleto de maldição.
Ó, queres tu me matar?
17
Que Deus te risque do mapa.
Que rasgue essa tua capa
Com que te escondes da Luz.
Fira a terra, seque os rios,
Mate os peixes e aos vadios
Dê o castigo da cruz.
18
Teus filhos não mereciam...
Nada devem, não deviam
Mendigar o pão dormido.
Morram, políticos de merda!
Pois é Deus quem vos deserda!
Seja o vosso altar fendido!
19
Vós que idolatrais o ouro.
Imbecis, em vil desdouro
Deus há de vos colocar.
Ladrões infames da vida.
Há de ser-vos consumida
A vida em fogo a queimar.
20
Tu, ó tirano e cruel,
Que de maneira infiel
Falaste em plena avenida,
Serás por Deus destruído,
Pois morrerás consumido
Pela chama enfurecida.
21
Político profanador
Da política onde o sabor
Da democracia está.
Oh! Deus te dará jazida
Em fogo que abre ferida
A qual jamais sarará.
22
Podem pensar por aí
Que o que, a exclamar daqui,
Eu repito, não é certo.
Porém, você que me lê,
Não negue aquilo que vê,
Não deixe o mal encoberto.
23
Se não tenho sentimentos?
Todos os tristes momentos
Que tive provam que sim.
Revolta também é um.
Pode até ser incomum,
Mas pulsa dentro de mim.
24
Olhe em volta e veja tudo
De podre que há neste agudo
Desespero de nação.
Há quem o mesmo não sinta?
Por que, muito embora minta,
Não engana o coração.

RF Amaral


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