E isso não é maravilha,
Porque o próprio
Satanás se transfigura
Em anjo de luz.
(II Coríntios 11.14)
Baseado em Boatos Reais
A Esquina Engolidora
1
Em tempos não tão
distantes
Eu resolvi caminhar
A altas horas da noite
Só pra poder contemplar
O pleno céu estrelado
E a face astral do luar.
2
Meu horário “insalutar”
Começava à zero hora.
Punha uma roupa de frio,
Pois sabia que lá fora
Estaria “um gelo só”,
Visto que o ar colabora.
3
Ao me vestir sem demora,
Ouvia as conversações
Dos caras que me
esperavam
De luvas e jaquetões
Pra gente ir dar um rolé
Por aqueles quarteirões.
4
Só das imediações
De onde eu morava saíam
Uns nove caras fanáticos
Pela noite e que faziam
De tudo pra’andar à
noite
Que as noites os
atraíam.
5
Fora esses caras que iam
Comigo todo o caminho,
Havia’outros que nos
viam,
Ou um andando sozinho
Que à turma se agregava,
Seguindo sem desalinho.
6
Perfazia com carinho
Aquele caminho todo.
E ali, com tantos
colegas,
Não me faltava denodo
(^)
Pra caminhar na
“madruga”
Sem temer qualquer
engodo (^).
7
Poça, espinho, pedra e
lodo,
Por tudo a gente
passava...
Só que, de uns meses pra
frente,
Sutilmente eu já notava
Que o grupo se resumia,
Mas o porquê não achava.
8
Uns quinze a gente
contava
Que faziam tal percurso,
Porém se foi reduzindo
Sem um motivo ou
discurso
Que esclarecesse o
desfalque
Da nossa aventura “em
curso”.
9
Onça, leão, lobo ou
urso,
Nada podia parar
A nossa turma animada,
Então “comecei buscar”
Explicações para as
faltas
Que eu já estava a
contar.
10
Comecei a perguntar
Nas casas dos tais
colegas,
Nos seus locais de
trabalho,
Mercados, bares, bodegas
Onde costumavam ir,
Mesmo assim findei às
cegas.
11
“Sem buscas e sem
entregas”
As conversas se perderam
No vento, e os moradores
Nem sequer se surpreenderam
“Com’o desaparecimento
Dos que desapareceram”.
12
Muitos mais se
escafederam
E eu fiquei andando só,
Porém bem mais apressado
Afinando o mocotó
Por ruas e avenidas,
Enfrentando até toró.
13
Co’a gola “pelo gogó”
Eu andava na “madruga”
Certo dia, quando eu vi
Um lençol sem dobra ou
ruga
Voando ali numa esquina
E, ao me assustar, eu
“dei fuga”.
14
Parei de andar na
“madruga”
Daquele dia pra frente
Depois de ficar sabendo
Em conversa de batente
Que a esquina era
chamada
De “Engolidora de
Gente”.
15
Então rebusquei na mente
Algo que não se imagina,
Lembrei que os colegas
todos
Que dobraram tal esquina
Pra’ali poderem’urinar
Padeceram’a mesma sina.
16
Só que, em meio a tal
rotina
De nossa árdua caminhada
(Que, mesmo árdua, era
“legal”!),
Nós não ligamos pra
nada,
Pensamos que cada um
Voltara a sua morada.
17
Só que no’outro dia nada
De um ou outro aparecer.
E o pior, sempre sumia
Outro sem ninguém saber
Onde que naquela esquina
Ele iria se esconder.
18
Deixei de tanto temer
E passei naquela
esquina.
Olhei, cacei, procurei,
“Varri”, “fiz até
faxina”,
Mas não resolvi o crime
Daquela “Esquina
Assassina”.
19
Então retomei a sina
De andar de madrugada.
E uma noite, por acaso,
Deu-me uma “crise”
danada
De bexiga e eu fui mijar
Na’esquina
malassombrada.
20
Pois não é que, ao ser
mijada,
A danada reagiu.
Abriu-se a boca do chão,
A minha urina sumiu,
Uma coisa me agarrou
E a esquina me engoliu.
21
No que um preso
escapuliu,
Ela “correu” pra buscar.
Aí foi mesmo o momento
No qual eu pude escapar.
Vi meus amigos lá
dentro,
Mas não queria ficar.
22
Sorte eu poder me livrar
Das garras daquela
praga.
Tive que descobrir só
Que quem “lhe” mija ela
traga:
Se com quem mija é
assim,
Imagina com quem caga!
23
Porém depois dessa saga
Eu respeito toda
esquina,
Beco, travessa (´),
viela
Seja larga ou seja fina,
Pois pode ser que ela
seja
Das que engolem quem
urina.
24
Falo ao menino e a
menina,
Caso tenham que urinar,
Procurem’um banheiro público,
Mesmo um banheiro de
bar,
Mas não urinem
na’esquina
Que ela pode não gostar.
RF Amaral
vc ta crescendo na poesia..
ResponderExcluirGrato. Deus abençoe.
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