quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Assombros do Pedro Pires (O menino acaveirado)

E isso não é maravilha,

Porque o próprio
Satanás se transfigura
Em anjo de luz.
(II Coríntios 11.14)

Baseado em Boatos Reais


Assombros do Pedro Pires
(O menino acaveirado)
1
Conhecido por Bibi,
O seu nome popular,
Luiz Farias um dia
Chamou-me pra conversar
E relatou umas coisas
Que davam medo escutar.
2
Lá no reduto escolar,
Onde exerceu profissão
De vigia, viu de tudo:
Vulto de pé no portão,
Dançando na cumeeira
E até sentado no chão.
3
Ligava a televisão
Ou o rádio pra’escutar
As notícias importantes
Pra poder se informar,
Mas o danado é que os dois
Sempre saíam do ar.
4
Rádio “pegava” a mudar
De volume e estação.
TV trocava canal
Sem ninguém botar a mão.
Posto que pra assistir
Dava um trabalho do “Cão”.
5
Via vulto de feição
Feminina a passear.
E até de adolescente
Que morreu sem terminar
O estudo naquele canto
E ainda vinha estudar.
6
Via vulto a cozinhar,
Arrastando o pé no chão,
Passando com frigideira,
Estrelando ovo na mão...
Gemido, choro, assovio,
Tudo sem explicação.
7
Mas o que, na narração,
Mais me fez arrepiar
Foi a história de um menino
Que, numa noite sem par,
Resolveu aparecer
Ali naquele lugar.
8
Bibi tava a cochilar
Deitado ali num colchão
Por volta da meia-noite,
Quando sentiu um puxão.
Foi olhar, era o menino
Bagunçando no salão.
9
Jogando a bola co’a mão
Nas paredes do lugar.
Correndo, rindo e gritando
Sem o deixar descansar.
Então ele resolveu
Falar pra ele parar.
10
- Quem é teu familiar? –
Fez-lhe tal indagação.
Mas a criança não fez
Qualquer tipo de menção
Que iria parar co’aquilo
Ali naquele salão.
11
- Onde é tua habitação? –
“Se pôs” ele a perguntar.
Mas quanto mais o indagava,
Mais aumentava o azar:
Que o guri se enfurecia
E pegava a se espojar.
12
E quando ele ia pegar
O moleque pela mão,
O danado “se escapava”
Sem haver explicação.
Aí Bibi percebeu
Que aquilo era uma “visão”.
13
Mas não se intimidou não.
Pegou a vociferar:
- Ô moleque “maluvido”,
Vai procurar algum lar
Onde tenha outro fantasma
Com quem tu “possa” brincar!
14
Porém, foi só terminar
A tal reivindicação,
Pra’aparecer mais assombro
Correndo em meio ao salão
E bagunçando o fichário
Que tem na recepção.
15
Bibi decidiu então
Correr atrás pra’evitar
Que derrubassem os livros
E as cadeiras do lugar
E quebrassem o birô
Pra’ele ir depois consertar.
16
Começou a se enraivar.
Restou uma assombração.
A que tinha dado início
A toda a agitação.
Foi pegá-la e ela mudou
De aspecto a sua feição.
17
Feioso igualmente o “Cão”
E co’uma voz de assustar,
A criança se virou
E “começou gargalhar”,
Que Bibi quase “cagou-se”
Quando “ouviu ela” falar.
18
Correu pra se resguardar
Da fúria daquele “Cão”,
Só que tropeçou em algo.
Meteu a cara no chão,
“Se arrastou”, clamou, gemeu,
Mas não achou salvação.
19
Uma “acaveirada” mão
Pressionou-lhe a jugular.
Outra agarrou seu calção,
Puxando o seu calcanhar.
E ele se viu apertado
Sem nem ter voz pra gritar.
20
Era a caveira a fungar
E ele a’estrebuchar no chão.
O ruim era que o mau hálito
Da boca da’assombração
Inda era mais assombroso
Que a sua própria feição.
21
Quase sem ar no pulmão,
Bibi, baixinho, a falar,
Começou aconselhando
O vulto e ele, ao pensar,
Resolveu ouvir as dicas
Que ele queria lhe dar.
22
- Meu filho, pegue a usar
Logo após a refeição
Um fio dental, uma pasta
Para higienização
Da boca, porque a sujeira
Prejudica a dentição.
23
E a vaidosa assombração
Deu-lhe razões sem cessar.
“Lhe disse” que procurou
Dentistas pra se tratar,
“Só que no mundo dos mortos
Ninguém quer mais trabalhar!”
24
Nunca mais quis assombrar
Aquele nobre ambiente.
E adivinha a razão
De ela ficar tão valente...
Tudo aquilo era por causa
De uma dorzinha de dente!

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