segunda-feira, 22 de abril de 2013

Medo: Sentimento Comum - Explanação Teológica

Medo: Sentimento Comum

Texto-Base: II Co 7:5 e Sl 55:5; Is 8:13 e Mt 10:28
Por Roberto Felipe Amaral

Intro
Todos sabemos que o fato de termos “medo” ou, ao menos, certo receio de algo evita diversas vezes que nos envolvamos em negócios arriscados demais que podem nos trazer prejuízos. Pois bem, tendo em vista esse raciocínio, quero eu “desmistificar” esse sentimento, que penso ser natural ao ser humano, mesmo o Adão pré-lapsariano (pré-queda ou anterior à “queda do pecado”). 
Que Deus nos ajude!

Desenvolvimento
A Bíblia diz:
(Isaías 8:13) -  Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro.
Na NVI: O SENHOR dos Exércitos é que vocês devem considerar santo, a ele é que vocês devem temer, dele é que vocês devem ter pavor.
Diante desse texto faz-se possível afirmar que “ter medo de Deus” é bom. Agora, deve-se asseverar que aqui não se trata de um medo vão, não misturado ao respeito, que é termo usado como substituto de temor muitas vezes nos púlpitos e nos seminários quando se faz referência, tipo, a passagem de Provérbios 1:7 - O temor do SENHOR é o princípio do conhecimento; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.
No AT as palavras hebraicas: yare' (verbo “temer”), yir'ah (substantivo “temor”), môrah (medo), são as mais freqüentes quando da tarefa de se expressar esse sentimento, porém tendo em mente tanto um “temor ou respeito santos ou religiosos” quanto “receios quaisquer”. Já no NT os termos gregos: ekstasis (assombro), thambos (espanto), ptoesis (terror. Vide I Pe 3:6b), phobos (medo), phobeo (temer. Vide 12:4,5), pturo e ekthambeo (atemorizar) esboçam o sentido geral da palavra.
Voltando aos textos, vejamos:
(Mateus 10:28) -  E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.
Na NVI: Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Antes, tenham medo daquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno.
Fato é que se “o ter medo” fosse um ato pecaminoso, como alguns, infelizmente, pensam, não poderia de modo algum ser voltado a Deus como algum tipo de louvor, visto que “ter Deus por assombro” remete a idéia de que se teme seu juízo, seu poder, sua autoridade e posição, redundando isso em uma espécia, sim, de reverente louvor.
Não especulo se Adão tinha medo (veio a demonstrá-lo pós-queda Gn 3:10), pelo menos como a gente hoje, depois do pecado, o tem, posto que ele não se assustava diante do Deus Todo-Poderoso e sua mulher não se amendrontara quando da conversa com a serpente, coisa muito estranha, visto que, para qualquer um, um animal falante causar-lhe-ia espanto, mesmo se ele fosse o próprio Diabo transfigurado (mas sustento que ali era uma serpente mesmo e que, posteriormente sua imagem veio a representar Satanás. Isso porque ela é castigada a rastejar Gn 3:14, o que não pode, ao meu ver, aplicar-se ao Demônio, todavia alguém pode querer “alegorizar” aqui nessa citação focando Rm 16:20).
Para “cientificar” um pouco cabe bem aqui uma citação enciclopédia que pode lançar luz sobre o que ocorre no nosso corpo quando sentimos (entenda-se como ele, o corpo, se prepara diante da emergência). A Barsa diz:
“Em situações de emergência, independentemente da causa, o corpo humano reage de uma maneira bem definida. Essa resposta é causada pela ação de determinados mensageiros químicos e hormônios, cuja ação não podemos controlar conscientemente”. 
“A adrenalina, cloridrato de dioxifenil-etanol-metil-amina, também chamada de adnefrina, epinefrina e supra-renina, é um hormônio segregado pelas glândulas supra-renais na corrente sangüínea, a fim de compensar a queda do teor de açúcar, causada pelo medo”. (grifo nosso)
E a enciclopédia ainda acrescenta:
“Os efeitos da adrenalina e da noradrenalina, hormônio quimicamente semelhante, também produzido pelas supra-renais, são semelhantes. Ambas aumentam a força das contrações cardíacas e decompõem os lipídios, elevando o nível dos ácidos graxos em circulação, a taxa do metabolismo e a vivacidade. A noradrenalina, no entanto, causa a elevação da pressão sanguínea uma vez que promove a contração de todos os vasos sanguíneos, com a possível exceção das coronárias. A adrenalina, por sua vez, causa um aumento do teor de glicose no sangue, por meio da decomposição do glicogênio no fígado, o que não acontece com a noradrenalina”. (grifo nosso)
Sabe-se que sentimos medo por nos sentirmos ameaçados. E os humanos, assim como os animais irracionais, tem a seu favor atividades endo-corporais que os preparam para o pior da melhor forma possível (cuidado! Eu não tô dizendo que acredito que homens são animais evoluídos. Não creio nisso! Só tô comparando tal reação). E isso é um presente de Deus, pois, já pensou se tivéssemos que correr de cães ferozes famintos (às vezes não adianta! Eu sei! Mas é só pra exemplificar) e o corpo não nos ajudasse a nos prepararmos rapidamente para tal? Estaríamos fritos, ou seja, devorados.
Agora, é claro que alguém poderia se por contra toda a minha linha de raciocínio argumentando com base em textos que veremos abaixo que, tanto Javé como Jesus diversas vezes repreenderam homens por sua demonstração de espanto. Vejamos as passagens uma a uma:
(Deuteronômio 31:6) - Esforçai-vos, e animai-vos; não temais, nem vos espanteis diante deles; porque o SENHOR teu Deus é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará. 
(Josué 10:25) -  Então Josué lhes disse: Não temais, nem vos espanteis; esforçai-vos e animai-vos; porque assim o fará o SENHOR a todos os vossos inimigos, contra os quais pelejardes.
Os dois textos acima expressam conclamações à guerra. Nada neles indica que homens não sentem medo – ou seja, sentem-no só por pirraça – ou devem suprimi-lo a vida toda. Entretanto, os textos incutem ânimo de fé e, nesses caos o medo vinha a ser uma desconfiança no poder de Deus. Os textos, na verdade, “alvejam” a insegurança de fé, não reações químicas naturais do corpo. A Bíblia diz em Hebreus 11:6 - Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.
Não quero dizer que o sentimento de apreensão do pavor não se assemelhe, ou melhor, não reflita muitas vezes à falta de fé do ser humano, mas que a intenção é o que conta, não a reação do corpo em si. Veja o que a Bíblia diz em I João 3:20 - Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas. Na NVI vv. 19, 20: Assim saberemos que somos da verdade; e tranqüilizaremos o nosso coração diante dele quando o nosso coração nos condenar. Porque Deus é a maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas.
O que eu quero dizer é que podem acontecer muitas coisas no percurso da fé, mas ela se mantém de pé só na Palavra proferida por Deus (Dt 30:11-20) e na ação que a faz visível aos outros e a nós mesmos (Lc 10:25-37 ênfase nos vv. 28 e 37) (apesar de Deus ser onisciente, Ele nos ordena a demonstrar a fé que temos através das obras. vide Tg 2:18-20).
Atentemos para o que fala Isaías 35:4 – Dizei aos turbados de coração: Sede fortes, não temais; eis que o vosso Deus virá com vingança, com recompensa de Deus; ele virá, e vos salvará. Vejamos também Joel 3:10 – Forjai espadas das vossas enxadas, e lanças das vossas foices; diga o fraco: Eu sou forte. Bom é que se incuta que nenhuma parte da Bíblia afirma que não há relutância no homem na caminhada cristã, muito pelo contrário. Vejamos:
(Gálatas 5:17) -  Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis.
(Romanos 7:14-25) - Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e com efeito o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor. Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.
Vamos neste momento analisar mais alguns versículos dos quais se servem os contra-argumentistas:
(II Reis 1:15) – Então o anjo do SENHOR disse a Elias: Desce com este, não temas. E levantou-se, e desceu com ele ao rei. 
(Mateus 14:26) – E os discípulos, vendo-o andando sobre o mar, assustaram-se, dizendo: É um fantasma. E gritaram com medo. 
(Mateus 17:6,7) – E os discípulos, ouvindo isto, caíram sobre os seus rostos, e tiveram grande medo. E, aproximando-se Jesus, tocou-lhes, e disse: Levantai-vos, e não tenhais medo.
(Mateus 28:5) - Mas o anjo, respondendo, disse às mulheres: Não tenhais medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado. 
Todos os versos supracitados versam sobre situações naturais de medo (naturais depois da queda! Quando digo “naturais” é que não se traduzem em pecado). Mesmo o fato de Jesus ou o Anjo do Senhor pedirem para que os sujeitos envolvidos nas ocasiões não temessem, isso não quer dizer, forçosamente, que tivessem incorrendo em transgressão da lei de Deus por expressarem assombro diante da singularidade dos casos. É bom se notar que, às vezes tão grande admiração ou espanto, na verdade vinha culminar em fé ou algum tipo de louvor que, algumas vezes, podia ser verdadeiro mesmo! Veja:
(Lucas 5:26) – E  todos ficaram maravilhados, e glorificaram a Deus; e ficaram cheios de temor, dizendo: Hoje vimos prodígios.
(Lucas 5:8,9) – E vendo isto Simão Pedro, prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador. Pois que o espanto se apoderara dele, e de todos os que com ele estavam, por causa da pesca de peixe que haviam feito.
Por fim, veremos só mais uns versículos últimos. Atentemos:
(Mateus 14:30) – Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e, começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me! 
(Lucas 8:37) -  E toda a multidão da terra dos gadarenos ao redor lhe rogou que se retirasse deles; porque estavam possuídos de grande temor. E entrando ele no barco, voltou.
(Atos 5:5) -  E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou. E um grande temor veio sobre todos os que isto ouviram.
(Atos 5:11) -  E houve um grande temor em toda a igreja, e em todos os que ouviram estas coisas.
(Lucas 2:9) -  E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor.
(Marcos 4:41) -  E sentiram um grande temor, e diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?
Mc 4:36-41, que é toda a seqüência para uma boa contextulização do verso último acima citado mostra bem que os envolvidos ainda não tinham se convencido de todo se Jesus era capaz de coisas tão grandiosas mesmo. O verso 40 na NVI diz: Então perguntou aos seus discípulos: “Por que vocês estão com tanto medo? Ainda não têm fé?” A julgar pela palavra “tímidos” (Mc 4:40 cf. Ap 21:8a) usada nesse texto, é bem de se identificar um grau de incredulidade por parte dos indivíduos. Porém isso não quer dizer que reações de espanto não sejam natuarais em ocasiões desesperadoras, mas o deixar-se levar por ele, dando azo à incredulidade, isso sim se constituía falta grave.
O verso de Mt 14:30 cita outro caso de afracamento da fé. O v. 31 fala “E logo Jesus, estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?” Isso parece ser um desfecho para se concluir que a própria demonstração de medo dele era sua falta de fé. Mas, decerto, o espantar-se é normal, porque, se ele, mesmo espantado, continuasse a andar, com certeza demonstraria fé firme, resistindo à tentação de temer e parar. Foque-se que Tiago 1:12-15 assevera – “Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam. Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”. Fato é que o pecado não está em ser tentado (entenda-se ser assaltado por uma reação corporal de medo), mas em deixar-se levar pela tentação (entenda-se pelo medo).
Lucas 8:37 mostra uma admiração que gera maus frutos, como o de espulsar da cidade quem trouxe a ela salvação. Repito, a reação de susto ou assombro é normal, mas segue que, alguns, pela sua própria dureza, fazem que o medo venha a se traduzir em incredulidade. Deus não espera que não sintamos medo, mas que o vençamos! (sei que Ele não quer que temamos pelo fato de confiamos n’Ele, mas a questão aqui não essa, a questão é, se um sentimento que nos estimula à defesa do nosso corpo (I Co 3:16,17) e é comum poderá, ou seja, permitir-se-á que ocorra? Afinal, pecaríamos por predisposição genética? (I Co 10:13; João 9:40,41) Culpar-nos-íamos involuntariamente? (Ez 18:2,3,20)) O mal não está no medo, está na falta de confiança em Deus! Veja: (Provérbios 14:16) – O sábio teme, e desvia-se do mal, mas o tolo se encoleriza, e dá-se por seguro. Ou nesta versão da NVI: O sábio é cauteloso (Ou teme o Senhor) e evita o mal, mas o tolo é impetuoso e irresponsável. Aqui o texto pode ser interpretado como falando ou do temor do Senhor ou do temor de cautela, cuidado, prontidão para reconhecer o que lhe possa gerar prejuízos.
Os versos que restaram que foram retirados do livros de Atos dos Apóstolos, capítulo 5 e Lucas, capítulo 2, os primeiros versam sobre medo diante de um castigo que serviu de exemplo para que outros não desobedecessem a Deus. Um medo bom, por sinal! Que reflete disposição, pelo menos aparente, de que atentaram para a lição!E o último texto, que é o de Lucas, discorre sobre um espanto natural diante da aparição do Anjo do Senhor.
Embora eu tivesse dito que iria finalizar nesses textos comenados, eu quero ainda comentar um em especial do qual muitos se apropriam para tirar conclusões erradas sobre essa reação natural do corpo. Examinemo-no então:
(I João 4:18) – No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor. Ou na versão NVI: No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.

Este texto se correlaciona muito com este outro:

(Hebreus 2:15) – E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão.

Com base em I Co 7:5; Sl 55:5; Gn 32:7; Sl 56:3; Êx 2:14; Jó 3:25; Lc 19: 21; Gn 3:10 posso afirmar peremptoriamente que todo homem teme, cristão ou não cristão. Agora, reservo-me aqui na posição de que não apoio de forma alguma que o homem tenha que ser vencido pelo medo. Ter medo é uma coisa como em Lc 19:21, mas não fazer o certo por causa desse medo é outra completamente diferente (Lc 19: 22 ênfase para “sabias que eu sou homem rigoroso”).

Já em se tratando dos textos acima destacados, concordo plenamente com o que eles dizem (e versam sobre salvação. Sabemos que estamos aperfeiçoados em Cristo – Cl 2:10; Mt 19:21), mas não vejo motivos para achar, como uns vêem também em Jó 3:25, que esses versos estejam asseverando um final completo na “capacidade”, ou melhor possibilidade do homem, seja ele crente ou não, de sentir-se amedrontado.

Conclusão
É de se admitir que o medo veio como conseqüência do pecado, mas senti-lo não é um pecado. Desconfiar de Deus sim é um pecado. Se o assombro nos leva à desconfiança, devamos deixá-la de lado. Mas, lembremo-nos, ela ainda vai estar “do nosso lado”, mas não “do nosso lado” no sentido de apoio. Assim como é “enfadonha essa ocupação debaixo do sol que Deus nos deu para com ela nos exercitar” (Ec 1:13c), o medo é reincidente, mas “Deus tem cuidado de nós” (I Pe 5:7:Sl 55:22).

(Salmos 121:5,8) - O SENHOR é quem te guarda; o SENHOR é a tua sombra à tua direita... O SENHOR guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre. Amém.

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