sábado, 6 de junho de 2015

Quadras A Realidades Poético-Surreais - Felipe Amaral

1
Os olhares da noite constelada.
O frio ósculo de ar anuviado.
Os abraços do vento regelado.
Silenciosos cochichos na calada.

Braços brancos de neve derramada
Sobre o rosto do solo já molhado.
Canta a boca da paz e o descampado
Adormece na terra desforrada.

Os ouvidos da tela abobadada
Do celeste infinito sombreado
Ouvem passos sidéreos no avultado
Coração da galáxia espiralada.

Caracol de neons frente à fachada
Do vazio do cosmos descerrado.
Uma porta de luz ante um eirado
De uma atroz vacuidade amortalhada.

Lua viva de face iluminada
Que da Terra perscruta o azul toucado
Das cabeças do mar vasto estirado
Sobre as placas de terra hoje alagada.

Eis cometas de cauda afogueada.
Os dragões do universo em seu valado.
As serpentes de um fogo espicaçado
Pelo atrito com’a Terra alvi-azulada.

As pestanas da chã esverdeada.
Lábios verdes de mato chacoalhado
Pelo sopro do vórtex circinado
Sobre a capa da pele da chapada.

Ventre etéreo de luz. Dourada arcada
De alvo sol que afugenta o frio estado
Da campina, do cerro e do aplanado
Frontispício da terra esboroada.

Alvorada de dentição ornada
De um elã virginal ruborizado
Como aurora de dia iniciado
Que se mostra também crepusculada.

Tudo sorve, respira, infla e translada
Para o bardo de plectro apaixonado
A essência do casto amor sagrado
Que mantém sua alma extasiada.

.........................................................










Nenhum comentário:

Postar um comentário