quarta-feira, 3 de junho de 2015

Quadras a Horace Walpole - Felipe Amaral

Num castelo onde o assombro atroz se hospeda
Ouve-se altos clamores de almas vis.
Há tremores e sons de cães hostis:
Um terror que do medo se embebeda.

Nas paredes, as sombras serpenteiam.
Descarnada, a caveira se apresenta.
Não há paz, só tensão tal que fomenta
Pesadelos que do ar se assenhoreiam.

O mistério é nutrido, a cada passo.
Nas janelas se avistam rostos pálidos,
Terroríficos, rudes, maus, esquálidos;
Langues, tesos, de aspecto frio e lasso.

O macabro fantasma da maldade,
Espreitando-nos, traz ao coração
O rebento de uma exasperação:
Substrato da nossa humanidade.

Há monstrengo de olhar afogueado
Que nos chega a lamber os pés e as mãos.
Leves toques nos ombros. Os pagãos
Exotismos, que o mal se há instalado.

Não há forma de fuga. Não há jeito
De correr do pavor que nos assombra.
Há um corpo deitado sobre a alfombra.
Há um brado de dor dentro do peito.

Sente susto constante. Sorve a incúria
Do insistir. Alardeia atro temor.
Quem se atreve a enfrentar tamanho horror
Que provoca a congélida lamúria.

É, ao fim, toda vida absorvida
Pelo medo, acabando de uma vez
Sob a lei má da tábida mudez
Que encarcera o mortal na atroz jazida.

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