Peleja de Emboladores
(a
poesia do sertão)
Refrão alheio; quadras abaixo minhas:
Deixa
avoar...
O
galo canta, o pato avoa.
Deixa
avoar...
Deixa
o meu carão cantar.
Deixa
avoar...
O
galo canta, o pato avoa...
Tá no mar, leve a canoa.
Não
deixe a barca virar
1
Colega,
pra começar,
Quero
cantar numa boa
Aqui
pra qualquer pessoa
Que
quiser nos escutar.
2
Mesmo
embaixo de garoa,
De
chuva, de tempestade
Decante
aquilo que agrade.
Não
deixe o povo enjoar.
3
Começo
com amizade
A
fazer o meu serviço
Porque
eu tenho compromisso
Co’o
pessoal de agradar.
4
Não
cesse o brilho ou o viço,
Que
a poesia precisa.
E
entre sem ter ojeriza
Da’ebulição
desse mar.
5
Todo
vate que improvisa
Entra
em qualquer oceano
Sem
medo e sem desengano
Depois
que o mesmo adentrar.
6
Mostre
ser pernambucano
De
talento e bom de lavra.
No
verso, meça a palavra.
Não
deixe a rima passar.
7
Meu
verso não azinhavra.
Tô
preparado pra luta.
Você
que mostre conduta,
Que
eu garanto não errar.
8
Me
preparo pra disputa
Já
tando dentro da’arena.
Rimador
não me apequena
Na
hora de versejar.
9
Desempenho
bem a cena,
Que
o meu improviso é cru.
Criado
no Pajeú,
Não
vim aqui “farrapar”.
10
Forte
“igual mandacaru”
Eu
sou, cantando repente.
Minha
comissão de frente
Nunca
deixa a desejar.
11
Tá
irritado, pois tente
Me
derrubar desse palco,
Que
eu, no fim, derrubo e calco
A
glória do que tentar.
12
Meu
repente eu não desfalco.
Nasci
pra cantar, colega.
Se
adentrar o pega-pega,
Não
vai poder me pegar.
13
É
melhor levar a jega
Mais
equipada pra guerra,
Que
a minha rima soterra
Todo
que quer me enfrentar.
14
Poeta
nenhum me encerra
Em
prisão em plena rua.
Já
vi que essa rima tua
Não
dá pra quem quer cantar.
15
Vim
aqui sem falcatrua
Mostrar
a minha’arte nobre...
Daí
meu povo descobre
Que
não dá pra te escutar.
16
Rimo
pra rico e pra pobre.
Nunca
tive covardia,
Que
essa minha cantoria
Me
leva a qualquer lugar.
17
Tenha,
então, mais ousadia,
Que
o teu verso não agrada.
O
povo toma a estrada
Porque
não quer te escutar.
18
Isso
é conversa forjada!
Meu
repente é mais zeloso,
Requintado,
perigoso
Que
o teu em qualquer lugar.
19
Pois
queira, com garra e gozo,
Mostrar
que canta improviso.
De
outra maneira, eu aviso
Que
você vai apanhar.
20
És
quadrado, chato e liso
Tal
qual peça de azulejo.
Procuro,
porém não vejo
Você
poder me assustar.
21
Sou
caboclo sertanejo.
Nasci
num chão ressequido.
Enfrento
qualquer “moído”.
Nunca
fui de amarelar.
22
Saiba
que eu sou destemido,
Mais
culto, sábio, mais lépido,
Que
o meu repente é intrépido,
Impressiona
“onde” chegar.
23
Pois
o meu inda é mais tépido,
Cálido,
formal e garboso...
Se
apronte, que eu tô nervoso.
Doido
pra te derribar.
24
O
meu corpo é mais “caloso”.
Minha
rima mais frondosa.
Minha
estrofe, portentosa.
Meu
improviso, exemplar.
25
Pode
vir em verso e prosa,
Canto,
ode, fado ou romance,
Que
eu aqui não vou dar chance
A
quem não souber cantar.
26
Conheço
bem meu alcance.
Sei
minha capacidade.
Mas
desconheço, é verdade,
Quem
possa me desbancar.
27
Pra
sua “felicidade”,
Hoje
você conheceu.
Taí!
Mais uma aprendeu
Com
quem nasceu pra’ensinar.
28
O
povo já percebeu
Que
você não canta nada.
Essa
conversa fiada,
Isso,
não pode mudar.
29
Bem...
Siga na mesma estrada.
Entre
no mesmo combate,
Que
eu garanto que um empate
Aqui
não há de se dar.
30
Não
divulgue disparate,
Que
o povo já se cansou
De
ouvir mentira e falou
Que
isso não vai agüentar.
31
Se
você não dá um show
Nem
sabe prender o povo,
Não
venha falar de novo
Que
eu tô a te atrapalhar.
32
Certo
é que eu não me demovo
Da
rima que considero
Boa,
capaz e prospero
Porque
sei improvisar.
33
Ouvir
mentira eu não quero,
Que
eu não tolero besteira.
Por
favor, cante e não queira
Tentar
me ludibriar.
34
Sou
da gente brasileira
Que
sabe e que aprecia
Uma
boa cantoria,
Mas,
contigo, não vai dar.
35
Sei
que a tua poesia
É
fraca, estulta e farroupa.
Por
isso, vê se me poupa
Desse
teu verso escutar.
36
Já
tás com fogo na roupa.
E
quem ateou fui eu.
Mas
inda não aprendeu
Que
nunca vai me ganhar.
37
Você
que não entendeu.
Precisa
de mais cuidado,
Que
versejo improvisado
Só
faz quem sabe cantar.
38
Você
tá desnorteado
Ou
então louco de tudo.
Eu
tenho bem mais estudo,
Não
preciso me humilhar.
39
Tá
hora do conteúdo
Ficar
ainda mais quente.
Ninguém
xinga o meu repente
Pra
não vir a apanhar.
40
Seja
mais conveniente.
Aceite
o que eu lhe aconselho.
Que
o meu repente é um relho
Pra
o que não quer me escutar.
41
Louco!
Vai te olhar no espelho!
Deixa
de conversa louca!
E
esconde a cara co’a touca
Pra
não vir me envergonhar.
42
Mouca
audição e voz rouca;
Mente
débil, corpo fraco...
Você
tá mesmo é um caco.
Não
pode me destratar.
43
Vou
te jogar num buraco.
Depois
cobrir com cimento,
Ladrão,
pelintra, nojento,
Não
queira vir me irritar.
44
Esse
teu conhecimento,
Já
sabia que era pouco...
Mas
já tá ficando é louco
Querendo
me amedrontar.
45
Caduco,
besta, tarouco,
Demente,
doido varrido,
Deixa
de buscar sentido
Pra
pensar em me enfrentar!
46
Sei
que o pódio é concorrido,
Mas
minha voz é fecunda
E
a minha mente se inunda
De
versos bons pra cantar.
47
Nem
foi nem será jucunda
Tua
forma de improviso.
Você
perdeu o juízo
Em
pensar vir me irritar.
48
Só
decanto o que é preciso.
Concisa
é minha toada.
Se
você não ganha em nada,
Não
venha me atanazar.
49
Sigo
na mesma jornada
Dos
grandes emboladores.
E
hoje você só tem dores
Por
intentar me alcançar.
50
Sou
dos vários cantadores
Que
zelam a profissão,
Todavia
você não,
Que
é ruim demais teu cantar.
51
Componho
a minha canção
Com
zelo e com valentia,
Capacidade,
ousadia
E
assim vou continuar.
52
Cantando
durante o dia,
Eu
maravilho as pessoas.
À
noite, as rimas são boas.
À
tarde, o verso, exemplar.
53
Quem
se contenta com broas
Não
pode se ressentir,
No
entanto, quem quer ouvir
O
que é bom, não quer ficar.
54
Você
não sabe aferir
O
valor de quem é bom.
Só
canta longe do tom.
Só
o que faz é errar.
55
Deus
do Céu me deu o dom.
Não
nego aquilo que tenho.
Porém
quem não tem empenho
Sempre
quer me destratar.
56
Criatividade,
engenho,
Ousadia
e avidez
Pra
cantar é pra quem fez
Esforço
e quis estudar.
57
Quem
conhece intrepidez
Naquele
que traz carisma
Ouve
a estrofe e não cisma
Com’o
que eu tiver pra mostrar.
58
Olhando
por outro prisma,
O
que se fala é bobagem.
Ninguém
vai achar vantagem
Já
antes de avaliar.
59
Não
quis falar da imagem.
Eu
quis citar o talento.
Quem
já ouviu num momento,
Sabe
o que tem que esperar.
60
Vamos
findar esse intento
De
querer provar ao mundo
Nosso
talento profundo,
Que
eu tento que me ausentar.
61
Já
reviramos o fundo
De
nossas mentes astutas.
Vamos
cessar as disputas,
Que
eu também quero parar.
62
Cantamos
rimas enxutas.
Não
deixamos a peleja.
E
o que vier ser que seja!
Que
é hora de descansar.
63
Nessa
rinha sertaneja
Mostramos
nesse momento
Que
cada qual tem talento.
Vamos
agora parar.
64
Demonstrei
conhecimento.
Você
demonstrou o seu.
Vamos
parar, porque eu
Vou
retornar ao meu lar.
65
Foi
um grande prazer meu
Cantar
com você, colega.
Se
já fizemos a’entrega
Do
verso, então vou parar.
66
Findou-se
esse pega-pega,
Que,
afinal, somos irmãos.
Vamos
apertar as mãos
E
partir pra o nosso lar.
_Autor: RF Amaral_
Nenhum comentário:
Postar um comentário