quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Fred e a Placa Perdida - Literatura de Cordel

Fred e a Placa Perdida
1
Fred levava uma vida
Sossegada e exemplar.
Contava dezoito anos
E, no ambiente escolar,
Não era o melhor aluno,
Mas tentava melhorar.
2
Quem o avistava a passar
Não tinha qualquer razão
Para falar qualquer coisa
Que apontasse o cidadão
Como sendo sem futuro
Ou de má reputação.
3
Sua boa posição,
Ante a massa popular,
Era de fazer inveja
A qualquer um do lugar.
E, assim, seguia vivendo
Sem ter co' o que se inquietar.
4
Ele já' stava a cursar
Faculdade e, desde então,
Só tinha mesmo motivo
Para preocupação
Quando a prova era difícil
E grande a obrigação.
5
Fora haver a' imposição
De ele bastante estudar,
Sua vida era cercada
De coisas pra' aproveitar.
Tinha muitas amizades
E um bom lar familiar.
6
Era mais que regular
Seu poder de aquisição.
E tinha uma namorada
De uma bonita feição.
No mais, eram só sorrisos
E paz ao seu coração.
7
Indo à instituição
De ensino pra estudar,
Conhecera amigos novos,
Vindo o seu grupo aumentar.
E esse era o breve resumo
Do seu viver singular.
8
Bem, algo veio a mudar
No seu viver puro e são.
Não nas suas amizades
Ou na sua relação
Com a bela namorada
Com quem tava desde então...
9
É que um dia, sem razão,
Algo o veio aperrear.
Era um desejo estranhíssimo
De partir para um lugar
O qual nunca visitara
Nem quisera visitar.
10
Era o nome do lugar
“Largo da Consolação”.
Lá, diziam se tratar,
De uma localização
Onde aconteciam fatos
Sem nenhuma explicação.
11
Todavia Fred não
Via qualquer patamar
De vantagem nas histórias
Que de lá vinham contar,
Pois que não se interessava
Por histórias de assombrar.
12
No entanto, por constatar
Já a sua compleição
Sentimental abalada
Por uma estranha emoção,
Viu conservar interesses
Por aquela região.
13
Mas não sabia a razão
De algo se verificar
No seu íntimo, concernente
Aquele estranho lugar.
Fato era que se inquietara
Com aquele mal-estar.
14
Não conseguiu mais botar
A sua imaginação
Em outra coisa e ficou
Sem encontrar solução
Pra o que já vinha sentindo
Há muito em seu coração.
15
Tomou a resolução
De partir para o lugar
Para tentar dar um fim
À' emoção irregular
Que tanto o preocupava,
Causando enorme penar.
16
Todos fizeram questão
De com ele visitar
O lugar que desejava,
Agora, perscrutar (pe – ris).
Então fizeram as malas
Para o Fred acompanhar.
17
Para poder transportar
Toda aquela reunião
De amigos, duas picapes,
Co' a devida arrumação
De cobertura, partiram
Para o local em questão.
18
Era a certa a previsão
De que iria demorar
Pouco para que chegassem
Ao referido lugar,
Que uns cento e oitenta quilômetros
Dali ficava a distar.
19
Porém, a' indisciplinar
Jovial inclinação
De se desviar dos planos,
Que davam à previsão
Exatidão, acabou
Por retardar a ação.
20
Fato era que a condução
Estava sempre a parar
Em uma e outra cidade
Que achava de se encontrar
No caminho para a urbe,
Que os estava a aguardar.
21
Pararam para almoçar,
Lanchar e pra refeição
Do jantar e até pra outra,
Feita na ocasião
Em que a noite dava ao dia
Total finalização.
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Na madruga a reunião
De jovens vinha a se achar
Numa das muitas cidades
Do percurso, por pensar
Em fazer parada em cada
Cidade pra conversar.
23
Desse jeito, o tal lugar
Da sua destinação
Via-se cada vez mais
Distante, pela razão
Da demora desmedida
De toda a locomoção.
24
Certo era que a diversão
Das paradas em lugar
Tanto fora, quanto dentro
Do roteiro regular
Era demais e, por isso,
Sempre os vinha a atrasar.
25
Paravam para contar
As histórias em questão
Que se contavam daquele
Local da destinação
E entravam na algazarra
Procurando distração.
26
Era difícil que não
Viessem a se atrasar.
Jovens e ainda de férias...
Só queriam farrear
E estenderem a viagem
Ao máximo pra “aproveitar”.
27
Fred queria chegar
À tal localização
Rapidamente, porém
Não havia condição,
Então, despreocupado,
Entregou-se à diversão.
28
Só depois de tanta ação
Pra todos complementar
Foi que chegaram ao canto
Que queriam visitar.
Numa pousada instalaram-se.
Depois foram repousar.
29
Era de tarde e o lugar,
Na devida ocasião,
Estava bastante frio,
Que a chuva, a cair no chão,
Trazia um tom invernoso
À tal localização.
30
Dividiu-se o “mutirão”
De jovens pra descansar
Lá naquela hospedaria
Que escolheram pra “ficar”.
E o Fred e a namorada
Não “demoram entrar”.
31
Ficaram num só lugar
Daquela acomodação.
Ela foi tomar um banho
E ele ficou no colchão
Pra tentar amenizar
Do corpo a sua exaustão.
32
Em toda aquela extensão
Territorial do lugar
O banheiro se encontrava
Não tão distante do par
De camas que ali havia
Pra cada um relaxar.
33
Era no segundo andar
A citada “instalação”,
Não tão grande, mas perfeita
Para uma acomodação...
E os outros também se achavam
Noutras de mesma extensão.
34
Estava ele no colchão
E Claudiana a tomar
Uma ducha demorada
No banheiro do lugar...
Foi quando aconteceu algo
Que ele não soube explicar.
35
Viu ali um popular
Que lhe “chamou atenção”.
Antes estava dormindo
Deitado ali no colchão,
Mas acordou, ao sentir,
Sobre o seu ombro, uma mão.
36
Virou a sua visão
Para o sujeito sem par.
Mas não via de que forma
Ele poderia entrar
No quarto, já que o fechara
Por dentro pra repousar.
37
O que era de assustar
É que, na recepção,
Recebera uma ligeira,
Mas precisa informação
De que só tinha uma chave
Praquela acomodação.
38
Isso, porque a razão
De só uma ali se achar
Serviria de aviso
Pra que viesse a tomar
Mais cuidado com a mesma
Na saída e ao entrar.
39
Mas veio a se conformar
Diante da imaginação
Encontrar, naquele instante,
Praquilo uma explicação:
“Talvez houvessem achado
Outra na recepção”.
40
Daquela repartição
Vieram, pois, a ligar.
O cara inda se encontrava
Ali, no mesmo lugar.
Fred, então, pediu licença
Pra o telefone pegar.
41
Pôde, por fim, constatar,
Por meio da ligação,
Que a sua chave inda era
Única na repartição,
Pois que ligavam pra ele
Reiterando a' informação.
42
Co' o telefone na mão,
Olhando pra o popular,
Que se encontrava do lado
Da cama, como a' esperar
Pra dizer alguma coisa
Que precisava falar,
43
Fred pôs-se a questionar
Na mente a recepção:
“Há um cara aqui no quarto!
Como existe condição
De ele ter entrado aqui
Sem chave alguma na mão?”
44
“Não há sinal de invasão
E ainda dá pra notar
Uma das malas deixada
Frente à porta do lugar
Do jeito que a Claudiana,
Ali, “achou de” deixar!”
45
Nada podia explicar,
Mas manteve-se em ação
Tranqüila, diante do fato
Do esquisito cidadão
Inda achar-se ali, olhando
Fixo em sua direção.
46
Vendo aquilo, fez menção
De começar a falar,
Mas o cara antecipou-se
E se pôs a conversar
Como se já conhecesse
Fred de um outro lugar.
47
Dado o fácil linguajar
Da tal comunicação
Que mantinha com o Fred
Naquela situação,
Quem visse constataria
Um familiar padrão.
48
Fred tentava buscar,
Em rápida meditação,
Por lembranças que o ligassem
Ao dado cara em questão,
Mas desistiu sem achar
Entre os dois tal ligação.
49
Na sua conversação
O cara pôs-se a contar
Uma das muitas histórias
Que ao Fred era familiar.
A do “Menino da Estrada”,
Ligada àquele lugar.
50
Vinha a história a tratar
De um menino que, em menção,
Fora levado da mãe
Numa dada ocasião
Na “Estrada do Passa-quatro”,
Que fica na região.
51
Narra a história em questão
Que a mãe, uma popular
Que morava em algum sítio
Lá pras bandas do lugar
Referido, achou-se em frente
Uma visão de assustar.
52
Que, estando a acompanhar
A mãe na ocasião,
O menino se assombrou
E de correr fez menção,
Mas o dado “malassombro”
“Foi” e o pegou pela mão.
53
Voando na amplidão,
O bicho tomou o ar
E sumiu, por fim, levando
O menino, a gargalhar,
E a mãe ficou catatônica,
Vindo logo a desmaiar.
54
Quando veio a acordar,
Sua comunicação
Era tão desencontrada,
Que qualquer compreensão
Não se achava na conversa
Que dava iniciação.
55
Sobre mais e mais pressão
De assombros no hospitalar
Leito onde havia ficado,
Ela não pôde agüentar
E acabou desfalecendo,
Vindo a morrer no lugar.
56
Ninguém soube desvendar
Dela a tal conversação.
Só depois é que alguém viu,
Perto do leito em questão,
Um papel que ela deixara
Dando de tudo a razão.
57
Numa breve explanação
O fato pôde aclarar.
Contou que havia se dado
O acontecido sem par
Por ela ter feito um trato
Com um mago do lugar.
58
Que, após não apresentar
Pra o trato uma condição
Pra o pagamento do mesmo,
O mago, em inquietação
Jurou tomar dela o filho
Pra punir dela a ação.
59
Então, em reparação,
Fez um feitiço vulgar
De evocação de demônio.
E, por fim, veio a se dar
O fato triste co' a mãe
Do guri em tal lugar.
60
Depois da história escutar
Fred se viu sem ação.
Foi tomado por um medo,
Mas não viu explicação
Praquilo, pois que não tinha
Medo de assombração.
61
O cara voou do chão.
Começou a gargalhar.
Claudiana logo veio,
Porém, não quis mais ficar.
Abriu a porta e saiu
Dali correndo a gritar.
62
O pessoal do lugar,
Em solidarização,
Foi ver o que acontecia
Naquela acomodação,
Mas o fantasma já tinha
Feito desaparição.
63
Fred tomou decisão
De tudo aquilo deixar.
Fechou as malas de novo
E intentou retornar
Pra cidade onde morava
E ali nunca mais voltar.
64
Mas foi só ele arrumar
As coisas na' ocasião
Pra um espírito vulgar
Vir causar assombração
No pessoal do lugar
Da sua acomodação.
65
Chamou-se a recepção,
Mas ninguém pôde mais dar
Fim àquilo que ocorria
E vinha o povo assombrar.
Era tanto grito e choro,
Que estremecia o lugar.
66
Porta a se abrir e fechar.
Gargalhada no portão.
Janela dando batida
Sem ninguém botar a mão.
E assombração levitando
A' uns sete palmos do chão.
67
“Largo da Consolação”
Era um nome irregular
Praquele canto sem paz
Que “ao” povo vinha assustar.
De sorte que pouca gente
Queria ali habitar.
68
Em meio à “insalutar”
E assombrosa confusão,
Fred se pôs a lembrar
Dos contos, que tradição
Eram naquele recanto,
E achou uma solução.
69
Lembrou de uma narração
Em tudo particular
Que dizia que o espanto
Do referido lugar
Era causado por uma
Maldição sem similar.
70
Fato era que pra acabar
Com a cruel maldição
Era preciso que alguém
Trouxesse da região
Uma placa que ficava
Na' entrada de uma mansão.
71
A mansão, em relação
À urbe peculiar,
Tinha uma história bonita,
Todavia, teve o azar
De ser ali reservada
Pra velharias guardar.
72
O prefeito fez do lar
Devida edificação
Pra o despejo de objetos
Que em toda e qualquer gestão
Fossem tidos por escória
Pela inutilização.
73
Todavia, essa mansão
Fora (^) domiciliar
Para o primeiro prefeito,
Que se chamava Altemar
E fora o melhor prefeito
Que governara o lugar.
74
Só que esse ser exemplar,
Ao ganhar outra eleição,
Despertou ferrenho ódio
Da turma da' oposição
E acabou assassinado
Na sua bela mansão.
75
Enterrou-se o cidadão
Naquele mesmo lugar.
Porém, antes de enterrá-lo,
Houve algo de singular:
Um raio atingiu a cova,
Vindo o caixão transpassar.
76
E, ali da frente do lar,
Onde estava a multidão
Vendo o funeral do homem,
Correram todos e não
Ficou ninguém que levasse
Na cova aquele caixão.
77
Bem, não foi só a ação
Do raio eletrocutar
O corpo do falecido
Que veio ao povo assustar,
Ouviu-se também ali
Como que uma voz gritar.
78
Só que essa voz tumular
Tinha estranha entonação
E era tão alta, que o povo,
Não detendo explicação
Praquilo, saiu correndo
E gritando em confusão.
79
E aquela voz em questão
Que causou tal mal-estar
Dizia algo que as pessoas
Vieram a constatar
Como sendo imprecações
Contra o povo do lugar.
80
De lá pra cá, apesar
Daquela edificação
Ter sido ainda deixada
De pé pela oposição,
Ninguém pôde se livrar
Da horrenda maldição.
81
Que, em tal localização,
Sempre vem se efetuar
Algum tipo de grotesco
Ocorrido, a colocar
Medo no resto do povo
Que a urbe não quer deixar.
82
No “Cais Perpendicular”,
Na “Rua da Estação”,
No “Beco do Bulevar”,
Na “Travessa da Missão”,
Em todo canto da urbe
Aparece assombração.
83
E, alguém pra auxiliar
Do povo a libertação,
Disse certa vez que ali
Reinava tal maldição
Pelo fato de tirarem
Uma placa da mansão.
84
Era a sinalização
Que no citado lugar
Jaz o corpo do ex-prefeito
De nome Pedro Altemar
Da Silva Souza Custódio
Ferreira Brito Aguiar.
85
Ninguém quis mais questionar
A causa da maldição -
Que uns pensavam que a danada
Vinha desde a' ocasião
Do enterro de Altemar,
Por conta da voz do Cão,
86
Mas, uns, a situação
Viam ali se instaurar
Quando tiraram a placa
Da mansão rudimentar
E a levaram pra cidade
De nome “Proa do Mar”.
87
Essa urbe veio a “ficar
Para” essa população
Como a cidade onde a placa
Estava, pela razão
De ser onde o falecido
Nascera, por tradição.
88
Fato era que a' informação
De qual o certo lugar
Onde ele havia nascido
Era dúvida secular.
E, só bem posteriormente,
Pensou-se em “Proa do Mar”.
89
Mas Fred quis arriscar,
Visto a mesma tradição
Ter algo que a confirmava:
Uma carta, na mansão
Encontrada, que citava
A tal cidade em questão.
90
Fred pôs a reunião
Dos jovens para ir buscar
Aquela determinada
Cidade, indo ele a mostrar
O caminho para a mesma,
Dirigindo sem parar.
91
Chegaram a encontrar
A mesma em ocasião
Propícia, ainda nas férias,
Pois, em outra situação,
Teria ele que voltar
Para a sua habitação,
92
Visto, da' escola, a lição
Ali já se iniciar
E, o mesmo, o ano letivo
Não poder ignorar,
Que isso lhe seria errado
Demais pra “deixar passar”.
93
Depois de muito indagar
O povo da região,
Achou-se a bendita placa,
Pra' alegria do povão,
E o pessoal retornou,
Trazendo a placa em questão.
94
E foi só pôr na mansão
A placa retangular
Pra se escutar uma voz
No casarão se espalhar
Dizendo “muito obrigado”
Ao pessoal no lugar.
95
Veio a se normalizar
De toda a população
A rotina salutar
Que já fazia um tempão
Que não vinha a se instaurar
Em meio a' urbanização.
96
Eventos de assombração
Não mais vieram a dar
Notícia pra região
Que os esperava escutar
E o povo que fora embora
Começou a retornar.
97
E, depois de se formar,
Até Fred fez questão
De morar naquela urbe
Pela identificação
Com tudo que ali passara
Em passada ocasião.
98
Foi-se embora aparição.
Esvaiu-se no lugar.
Limparam toda a mansão,
Instando em lha ofertar
Pompa ao virem reformá-la
E em cultural transformar.
99
A mansão rudimentar
Mostrou a sua feição
Ampla, imponente e antiga
Restaurada pela ação
Atenciosa de um povo
Levado a dar-lhe atenção.

Autor: RF Amaral

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