quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A Cabeça Voadora - Cordel de Assombração

A Cabeça Voadora
1
Certo dia, que não lembro,
Lembro que fui viajar.
Pus a mochila nas costas
E parti, vindo a parar
Em um lugar esquisito,
Devido ao carro quebrar.
2
“Comecei analisar”
Do povo a estranha feição.
A cidade parecia
Co' as que, na televisão,
Servem pra rodar-se cenas
De filmes de assombração.
3
Da pouca acomodação
Ou nenhuma, quis me achar
Inteirado e perguntei
Ao povo ali do lugar
Se havia uma hospedaria
Onde eu pudesse ficar.
4
Mas ninguém quis me falar
Nada, ante a indagação.
E eu fiquei até com medo
Dessa total negação
Popular de me ofertar
A devida informação.
5
Não tinha a mínima intenção
De aborrecer nem irar
O povo que ali se achava,
Mas não pude precisar
O que foi que fiz ali
Praquele povo irritar.
6
Cheguei num dado lugar
Por ler uma informação
Que, numa placa, dizia
Que aquele tal casarão
Servia de estalagem,
E eu tava com precisão.
7
Só naquela instalação
Foi que pude divisar
Gente mais receptiva
E pude, enfim, me instalar
Naquele antigo ambiente
Para, afinal, repousar.
8
Era de se admirar
O estado do casarão.
Tinha fungos nas paredes
De toda a sua extensão.
Mas era o único lugar
Para uma acomodação.
9
Agora, a imensidão
Do recinto era sem par.
Havia bastantes quartos
Nos quais se podia achar
Espaço para um casal
Ficar sem se reclamar.
10
Que até dava pra pensar
Que a devida instalação
Fora (^) construída lá
Só para acomodação
De comitivas reais
Devido à sua amplidão.
11
Praquela imediação
Da janela pude olhar.
Tinha gente que parava
E apontava, ao comentar
Algo que eu não distinguia
E não sabia explicar.
12
Fato era que a “insalutar”
Sensação que, com razão
Eu sentia, me dizia
Que aquela população
Estava me observando
Lá por alguma questão.
13
Então eu, sem proteção,
Quis logo me retirar
Daquele canto e partir
Para algum outro lugar
Onde, decerto, pudesse
À vontade me encontrar.
14
Três dias pude ficar
Em tal localização.
No quarto, já de manhã,
Fui rápido à recepção
Pra quitar o pagamento
Lá da minha instalação.
15
Tomei banho. Pus loção.
E os dentes vim a' escovar.
Vesti-me  rapidamente.
Penteei-me devagar,
Todavia, ao ver a hora,
Vim, de novo, a me apressar.
16
Nem café eu quis tomar,
Devido a tal emoção
Que me dizia que lá,
Essa estranha região
Não era mais um setor
Bom pra minha instalação.
17
Chegando à recepção,
Com alguém pude falar.
Era uma mocinha doce
Quem, a recepcionar
Se achava de prontidão
No referido lugar.
18
Pediu-me para aguardar
Uns instantes, por razão
De ter que pegar ali
Os papéis da relação
De pessoas hospedadas
Naquela acomodação.
19
Tão meiga... Não fiz questão.
E me sentei pra esperar.
Mas foi se passando o tempo
E eu comecei me indagar
Em que canto havia entrado
Pra tanto vir demorar.
20
Cheguei a me aperrear
Quando a mocinha em questão
Demorou mais meia hora
Dentro da repartição,
Então levantei do banco
Para inquirir-lhe a razão.
21
Porém, ao ver lá no chão
A roupa peculiar
Co' a qual estava vestida,
Comecei a me assustar.
E lá não havia portas
Pelas quais pudesse entrar.
22
Arrodeei pra adentrar
O local, mas foi em vão.
Não havia mais ninguém
Naquela recepção.
E também, já parecia,
Que em nenhuma região.
23
Corri co' a mochila à mão
E pra fora fui olhar.
Não havia povo algum
Nas calçadas, a passar,
E aquele esvaziamento
Eu não sabia explicar.
24
Foi quando pude notar
Que deixara no balcão
Da recepção a minha
Carteira, na' ocasião,
Mas, não querendo voltar,
Fiz ligeira hesitação.
25
Mas parecia que não
Daria pra me virar
Sem o dinheiro da mesma,
Embora pudesse achar
Algum na minha mochila
Depois de a' escarafunchar.
26
Certo é que vim a tornar
Ao medonho casarão.
E, foi só entrar, pra o clima
Ter total transformação.
A chuva “pegou cair”
E anoiteceu sem razão.
27
Fiquei ali sem noção
Do que viera a se dar.
Mas tentei manter a calma
E fui, então, procurar
Um local onde pudesse
O botão da luz achar.
28
Mas, não podendo encontrar
O “danado” do botão,
Decidi enfrentar mesmo
A chuva na' ocasião,
Pois era melhor molhar-me
Que ficar no casarão.
29
Foi quando inda vi à mão
Um isqueiro e o quis pegar.
Estava no lusco-fusco,
Por isso inda pude achar
O determinado isqueiro
Que ajudou a clarear.
30
E, ao começar a voltar
Em direção ao portão
Do casarão pra sair
Lá daquela habitação,
Vi que tudo ia ficando
Mais distante a cada ação.
31
“Aí” tive a impressão
De ter podido avistar
Como que uma cabeça
Sem o corpo a levitar
No vão que dava pra porta
De saída do lugar.
32
Foi só identificar
Direito aquela feição
Pra começar a correr
Lá dentro do casarão
Gritando desesperado
Em grande aceleração.
33
Tendo inda o isqueiro à mão,
Mas o notando esquentar,
“Acaba que” resolvi
Ali no chão o atirar,
Pois que já não suportava
O “infeliz” a me queimar.
34
Dava ainda pra enxergar,
Mesmo mal, a extensão
Das divisões do recinto
E eu “me danei” pra o salão
Pra ver se ali poderia
Praquilo achar solução.
35
Mas a cabeça em questão
Vinha voando no ar
Atrás de mim, gargalhando
Com uma voz tumular,
E, “aí”, eu me vi perdido
Sem a saída encontrar.
36
Assombro sem similar
Era aquela aparição.
Porém eu tomei coragem
Pra encarar-lhe a feição.
Parei e esperei a mesma
Chegar àquele salão.
37
Não vendo mais condição
De daquilo me esquivar,
Resolvi saber de quem
Era o rosto elementar
Que na citada cabeça,
Lá, vinha a se apresentar.
38
Quando pude concentrar
Na mesma a minha atenção,
Notei que o tal se tratava
Da moça que, no balcão
Da recepção ficava
Pra atender o povão.
39
“Daí”, a circulação
“Começou acelerar”.
O coração bateu forte....
Minha perna a bambear....
O corpo todo esquentando
E eu começando a suar...
40
Não se encontrando lugar
No qual visse proteção,
Meu ser, já exasperado,
Lá, não viu outra opção,
Senão a de enfrentar tudo
E resolver a questão.
41
Peguei, então, um bastão
Que, ali, deu pra encontrar
E esperei ocasião
Pra co' a cabeça lutar.
“Aí” ela apareceu
E a gente “pegou brigar”.
42
Ela vinha abocanhar
Pescoço, pé, braço e mão
E eu, co' o bastão, evitava
Daquilo a consumação,
Batendo-lhe com bastante
Força na’ horrenda feição.
43
É que a cara da visão
Viera a se transmutar.
E a beleza da mocinha
Que, ao me recepcionar,
Ria, deu lugar a uma
Aparência “de assustar”.
44
Mas findei tendo o azar
De sofrer co' a dissenção.
Fui pela mesma engolido
E, depois da digestão,
Acabei nesse local
Fazendo esta narração.
45
Do meu punho a descrição
Ao leitor eu quis deixar.
Não sei onde estou agora.
Não dá pra localizar.
Mas consegui por um anjo
Ela a você entregar.
46
Queira o leitor estudar
Da mesma a revelação
E tentar localizar
Essa horrenda habitação
E matar essa cabeça
Que me pôs nessa prisão.
47
Fiz de tudo e toda ação...
Estou já “pra me acabar”.
Lamento não ter vencido.
Infeliz venho a me achar.
Possa o leitor ler a carta
E um dia vir me salvar.
48
A cabeça singular
Me vigia na prisão.
Aparência cavalar
Retrata, em transformação,
Agora, e tudo o que quero,
Logo, é só libertação.

Autor: RF Amaral

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