sexta-feira, 2 de setembro de 2016
Jó 38.36 - Reflexão - Felipe Amaral
Reflexão
Felipe Amaral
Quem foi que deu sabedoria ao coração e conhecimento à mente? (Jó 38.36)
Idéias Tópicas
> Olhar de fora a sabedoria;
> Esgotar as possibilidades de enumeração de suas propriedades;
>A complexidade na interação dos eventos do todo nos arrebata;
> Determinação da lógica;
> Por onde começar a busca de "abarcar" o todo?
> A Doutrina da criação e a sabedoria.
Desenvolvimento dos Pontos
> Olhar de fora a sabedoria<
Descartes disse, certa vez: "Penso, logo existo". E, entendendo que pensamento tenha lugar no que a Bíblia chama de sabedoria, parto tentando - se me é possível! - vislumbrar a profundeza do texto sacro escrito para minha consolação, mas também sabendo que a voz que me induz a escrever esta reflexão parece um tanto quanto interessada em conduzir-me por estradas não tão bem pavimentadas "assim"... "Pede o que quiseres e eu te darei". "Batei e abrir-se- vos-á". "Todo o que pede, recebe e o que busca, encontra". Temo aquilo com o que irei deparar-me pela frente, mas, desde agora, assinto. É hora de mergulhar, embora a água esteja muito fria.
Quando nos atemos à idéia de "fonte", contida na sentença "Quem dá sabedoria...", obrigamo-nos a pensar em "extensão". De "extensão" partimos para "quantidade". Desta, para "possibilidades". E, por fim, assustamo-nos diante de algo tão admirável, que não nos atrevemos nem em insistir na questão. Deixamos as coisas como sempre são. Confortamo-nos com o "chão", tendo um "céu" inteiro a perscrutar...
Deixe-me dizer o que penso sobre a sabedoria. Peguei-me tentanto dissecá-la, ao ouvir Deus fazendo-me a mesma pergunta que fez ao antigo Jó em tempos imemoriais. Na minha busca, singrei pelo método de análise primária do texto em sua literalidade. Vociferei internamente: "Mas já sabemos que temos que reconhecer ser Deus o dono do saber!" "Ele é o Criador de todas as coisas!" "Seus planos não podem ser frustrados! - já dizia Jó!" Até aqui, tudo bem. Mas parecia-me sempre haver mais no texto a ser investigado. Fui à descrição. Perguntei-me: Será que Deus, quando versa a respeito de sabedoria - ou conhecimento - fala só de algum aspecto da mesma, que venha à minha mente casualmente? Reliquei: Claro que não! A ideia de sabedoria é mais extensa no texto, dicionários de hebraico e grego - visto poder me referir ao texto na Septuaginta - mostrar-me-iam o tremendo engano de supor coisa tal! Sendo assim, comecei a elencar todo o conteúdo fracionário depreendido do termo. Suportaria, em sua extensão, algumas partes: em primordial análise, a consciência, depois a memória; discernimento para a sua classificação, capacidade de adequação do que foi memorizado e expressividade; por outro viés, percepção de logicidade, aptidão para uso da lógica, discernimento moral e capacidade de tomada de decisão.
Depois de listar tudo isso, vi-me confuso, ao notar que, só apelando para um simples método de descrição já me colocara em um nível de complexidade absurdo demais para mim, pois descrições exigem explicações e eu não estava tão inclinado a dá-las como o exigido. Quis ir além, por teimosia, mesmo deixando coisas atrás por fazer. Pensei: Veja Felipe, não estaria você incorrendo em um erro metodológico, ao tentar refletir sobre a sabedoria, utilizando a mesma para entendê-la? Não deveria você propor-se a "vê-la de fora" para "saber" do que se trata? Mas era impossível para mim fugir à sabedoria. "onde me esconderei do teu Espírito?", diz o salmista. Não mais me parecia ter sido à toa que um dos escritores do Livro de Provérbios tivesse comparado a sabedoria a Deus. Era-me impossível cogitar tentar explicá-la sem a utilização da própria. Mas - pensei - Deus deve ter uma sabedoria infinita! Olhe para as estrelas. Se só fossem mesmo trilhões, ainda assim ficaria difícil para mim perscrutar a complexidade do todo criado. Muitos eventos correlacionados. Muita coisa a gerenciar. O mundo é um imenso tabuleiro de xadrez. Se quantificar e descrever possibilidades de um de dezenas de casas já me faz ter fortes dores de cabeça, quanto mais pensando-se em um de trilhões de peças, trilhões de casas!... Assim sendo, cogitei que Deus saberia, de alguma forma que eu não compreendo, como seria "olhar a sabedoria de fora", mas não incorrer em uma "nesciedade" (conclusão tirada na ausência do saber! Se isso for mesmo possível!). Bem, não sei. Acho que até aqui já bastaria. Mas precisava ir além. Havia uma voz chamando-me a ir além. Insistia: "Venha. Você precisa conhecer mais. A lição não acabou ainda. Tenha calma".
Sendo levado, de modo que nem sei descrever, fui induzido a pensar sobre a ideia de "autonomia". E você pode estar se pensando: "O que, 'cargas d'água', a ideia de autonomia tem a ver com o assunto em lide?" Explico. Muitas vezes, pego-me querendo tirar conclusões sozinho. Deixe-me só - digo a Deus. E, apesar de não achar nada de tão filosófico na vida do profeta Elias, sou dado a concluir que passou-lhe pela cabeça tal coisa quando escondeu-se em uma caverna amedrontado diante das ameaças de Jezabel. "Que estás fazendo aí, Elias?" - era o que Deus me dizia, toda vez em que eu tentava resolver a problemática sozinho. É, mais ou menos, como o "Lázaro, sai para fora!" que Jesus pronunciou. A autonomia não poderia nem ser cogitada, dada a nossa pequenez diante, até mesmo conhecermo-nos. Estou sempre às voltas com minha mente, tentando achar respostas que me mostrem como expandir minha capacidade de raciocinar. Não adiantava eu me debater sobre o chão da sala ou bater dez vezes a cabeça contra a parede do muro. Não! O caso era comigo. Era sempre com a minha condição de ser diminuto. Não conseguia olhar a sabedoria "de fora". Ler trilhões de artigos, explicar as interações das galáxias. Sempre me é difícil saber por onde começar.
> Esgotar as possibilidades de enumeração de suas propriedades
Voltando à fase de "descrevente" da sabedoria humana, via-me insistindo em tentar contar possibilidades, após chegar a umas poucas partes. Qual o tamanho da minha memória? Posso decorar muita coisa, por certo. Veja um supercomputador com seus milhares de arquivos. Meu cérebro, no que diz respeito a informações genéticas, poderia gabar-se. Ah, o meu subconciente! Sim, este é um poço infindável de conhecimento! Posso até não saber acessá-lo direito, mas ele mostra-me todas as noites a sua capacidade indenominável de criar realidades inexcrutáveis misturando coisas que eu nem houvera me dado conta que analisei (e coisas misteriosas!). Mas poderia "contar as estrelas chamando-as todas pelos seus nomes"? Fico com um pé atrás quanto a isso. E , ainda que tivesse "fé de modo tal que fosse capaz de remover montanhas", não sei se já me estivesse decretado que poderia transformar-me em Deus. Há algo assombroso na mente do homem, mas, com certeza, não mais do que o seu Criador. É-me "determinado todo tempo debaixo do sol". "Meus fios de cabelo estão todos contados". "Tal ciência é para mim maravilhosíssima que a não posso alcançar". "Falei de coisas que eu não conseguia entender". Diante de tais asseverações, não me sinto propenso a pensar em uma não-limitação humana. "Em tudo eu vi fim, mas a tua lei é amplíssima". As descrições podem fazer-me ter dores de cabeça, mas o conforto de depositar todas as coisas nas mãos de Deus é o meu "Dorflex". Olhando para as partes das quais se compõe a ideia bíblica de sabedoria, fui conduzido ao campo das investigações subatômicas. Quando penso que acabei, eis que um cálculo "bobo" mostra-me que há mais a descobrir. Os átomos parecem não ser o bastante. Eles insistem em se dividir. Teimosos que são, comportam-se mal: ora como ondas, ora como partículas. "Eu queria poder contar os teus feitos, mas são mais do que se possa contar". Admirado, já pensava em desistir, mas aquela voz que, agora, parecia-me tão renitente, convidava-me a ir ainda mais profundo.
>A complexidade na interação dos eventos do todo nos arrebata
"Repare os acontecimentos. Quão numerosos são". "Deixe-me em paz, já me cansei". "Nãããão! Você ainda não viu nada!" Eis a luta dos meus pensamentos. "Dizia eu: Não mencionarei mais o seu nome... Mas, eis que um fogo ardia dentro de mim" e me impelia a propagar o que tentava refugar. Assim, "cingi-me da minha veste como homem que sou" e tomei coragem de ir em frente.
Estava lá. Tremeluzindo, cintilando, bailando em luzes... A complexidade dos eventos. Tudo aguardava deitado uma explicação. Propus-me a não me deixar abater. Deus impelia-me. "Vou descrever - disse - Vou descrever". Mas sempre será inútil querer abrir "Enciclopédias Britânicas" buscando montar o imenso quebra-cabeça das relações entre seus artigos. Perguntei ao nosso sacerdote protestante a quem chamamos pastor ou reverendo de onde viriam os assuntos que infestavam sua mente na hora da prédica. Mas causação é uma coisa terrível. Porém você poderia pedir-me para só me ater aos eventos em si. Tudo bem, digo, todavia, olhando para esses eventos cada vez mais de perto não posso esquivar-me da sua complexidade relacional. As coisas parecem não "irromper por acaso", só Deus faz coisas concretas sem material de construção. "Haja luz. E houve luz". Tudo é muito confuso para a mente humana abarcar. Tal coisa arrebata-me. Lembra-me a glória que enchia o templo. Não posso manter-me de pé.
> Determinação da lógica
Eis que então, raiou uma luz. Era a que "ilumina a todo homem que vem ao mundo": lógica. "Vai! Você consegue! Afinal de contas, és racional entre milhares de irracionais! O cientificismo brinda-te com esta descoberta! Vai! Ainda é tempo!" Arrependo-me sempre de acreditar poder escalar estes tipos de "Everestes". Lá ia eu, munido da positividade do Positivismo. "Conseguirei o que procuro. Nada pode me deter! "Nada nem ninguém conseguirá afundar este barco que construí. Inclua-se aí Deus." Mas, foi só começar, para ver que, até isso dependia de uma determinação da qual só me dava conta pela sua própria inerência de inatismo. A lógica estava lá, mas não havia sido eu o determinador da mesma. Eu olhava tudo pelos seus óculos. Como fora com a sabedoria, não me via podendo "olhar de fora" e, ainda assim, continuar a possuí-la. Foi esta a minha maior queda. Continuo caindo dia após dia, dia após dia. "Não se te dá que pereçamos?" Olhei para os lados e percebi que Deus estava no barco. Eis a bonança.
> Por onde começar a busca de "abarcar" o todo?
Não estava mais em mim. "Conheço um homem que foi arrebatado ao Terceiro Céu. Se fora do corpo, não sei; se dentro, tão pouco. E lá viu coisas inefáveis". Há muito o que se ver, por onde começar? Estava diante do Trono e não me dava conta. "Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos". Dizia eu: "Eia pois! Leiamos! Leiamos! Absorveremos tudo o que a mente é capaz de absorver. E me parece ser capaz de absorver o infinito. Cá pra nós, dizem as más línguas que Deus escondeu isto de nós. Já somos deuses; podemos ser Deus". E mais uma vez a ilusão deslindou- se em minha frente. Estou com a vista cansada. Esqueci-me do artigo duzentos e cinqüenta e três... Ou seria o cento e oitenta e nove? Não! Talvez o oitenta e cinco! "Amigo, venha consertar minha geladeira!" E eu: "Espera aí, já estudei sobre esta peça. Ah! Lembrei!... Opa! Mas e esta outra?" Havia muitos cálculos a resolver, muitas epopéias a ler, muita música a ouvir, muitos filmes a conhecer, muita vida a viver, tanta que nem a vida toda daria para vivê-la. Por onde começar? Vou tirar um cochilo. "Jurei na minha ira: Não entrarão no meu repouso!" "Nós, os que cremos, já entramos no seu repouso". "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus", "antes de mim, Deus nenhum se fez e depois de mim, nenhum far-se-á real". Mas a voz já começava a abrandar-se. "E eis um cicio suave". Depois de ventos quebradores de penhas, terremotos "estremecentes" e fogo abrasador, pude, então, descansar, mas não mais "dentro da caverna".
> A Doutrina da criação e a sabedoria
Há um propósito em tudo. Nenhuma peça parece estar ali em vão. E, até mesmo a ideia de "estar em vão" parece-me não existir em vão no mundo. "Pela fé, entendemos que os mundos foram criados pela palavra de Deus". Crer para entender. A ontologia da escolha é criada, bem como a da vontade, da lógica, da própria possibilidade, da condição, da aplicabilidade, da imaginação, enfim, de tudo. Olhamos para o que somos capazes de ver. Pegamos com as mãos; impossibilitados estamos sem elas. Conseguimos amar. O amor existe. A ideia de existir. O Ser existe! Deste Ser somos nós. O Ser é Deus, o Criador, Sabedoria que "se autoentende"... Sei, logo Deus existe!
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