quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sonetos Terroríficos (Poeta Felipe Amaral)

Sonetos Terroríficos

1
A caveira sonâmbula me via
Na estrada, sozinho a caminhar.
Perseguia-me andando devagar.
E eu, zeloso e com medo, prosseguia.

As risadas macabras desse dia
De espantoso noturno vil penar
Ressoavam no espaço do lugar
E assombravam meu corpo que tremia.

Entre cruzes passei. A bruma vi.
O frisson da calada. O frenesi
Que o meu sangue atestava ante o abismo.

Eram certas as dores. Certas sombras
Envolviam-me ali ante as alfombras
E o meu fim constatou-se no exotismo.
2
A calada noturna me envolveu
Certo dia, a caminho da cidade.
A estrada calada, na verdade,
Resguardava um assombro em meio ao breu.

O sossego se foi e o apogeu
De um medonho pavor que o peito invade
Dominou-me ali mesmo e a sanidade
Se desfez frente à dor do corpo meu.

Via covas abertas. E o sepulcro
Da tristeza, de rosto nada pulcro,
Assustava-me diante do ar local.

O céu negro inspirava morte e medo.
Rastejava o fantasma louco e tredo
Da matança e imperava a mão do mal.
3
Certo dia, a andar pela avenida
Numa noite de escuro incomparável,
Avistei abantesma vil e a estável
Sensação se desfez e a paz garrida.

A correr, até quis buscar guarida
Onde achasse descanso da odiável
Criatura cruel e inefável
Que buscava me ver posto em jazida.

Apressei-me. Bradei. Ninguém ouviu.
Via a rua deserta. Sucumbiu
Do meu ser a esperança do porvir.

Na certeza da morte me encontrei.
Era o medo da noite, mas eu sei,
Não há mais alegria no existir.
4
Umas gárgulas vi no céu nublado.
Um fantasma de rosto indistinguível.
Esqueletos andantes. Uma horrível
Sensação me envolveu e eu fui tomado.

Os vampíricos medos do passado
Infantil me assolaram na indizível
Emoção de terror imarcescível
Que me vi sobrevir ante o valado.

Gargalhadas ouvi e me espantei.
O prodígio do mal eu avistei:
O horrendo semblante maquiavélico.

Todo o riso escapou. Fugiu a paz.
Esperança não vi. Não fui capaz
De furtar-me a esse mal mefistofélico.
5
Vi no lodo uma lesma rastejante
Que buscava detritos corporais.
Entre tigres, hienas e chacais
Encontrei-me no afã de vil instante.

Quis correr de uma fera “esbravejante”
Que babava ante a lama em antros tais
E uma gárgula de ares infernais
Capturou-me: era horrendo o seu semblante!

Vi-me em fossa. E eis que o fosso devorava
Os meus sonhos. A dor já me abraçava.
O sossego se foi. A paz partiu.

Sou das grades do mal um prisioneiro.
Tenho o “capro” terror por companheiro.

Ante o choro o meu riso sucumbiu.


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