O Pensamento Divagante e Eu
"É o céu nublado. Deve ser". Quando as
nuvens estão todas agrupadas em frota “anti-estio” e os pensamentos remetem-te
ao mais distante. Quando os mundos possíveis parecem fazer-se reais todos de
uma só vez. Quando a exatidão dá lugar à alegria tão somente. Não há mais nada
que explicar. O mundo fez-se melhor. Olhei a tarde da janela e vi um cinza
lindo. O paraíso ainda não chegou, mas bem que parece ter estacionado em minha
garagem. E, olha que eu nem tenho uma! "Acho que tudo são sonhos. São
sonhos. Fica tranqüilo. A hebetude vai passar. Os fatos vão chegar, trazendo o
real realmente". Mas não me incomodo muito com isso de realismo. Na
verdade, relevo de forma tal que o mundo mais aparenta ser um eterno conto. Um
canto. Um riso. Uma praça enfeitada em noite de natal. Um presente sempre é
visto como uma dádiva imerecida por mais que seja apto o que a recebe. Não sei,
mas creio eu que irá chover mais tarde. Talvez seja eu querendo voar. Talvez
seja insolação. Talvez seja... seja... a paz da quimera que aflora em meio ao
terror da realidade. As crianças somos nós! Por mais que conheçamos
"de" Geometria e Física Newtoniana, ficamos sempre sujeitos às
fantasias. É o tempo que passa! Deve ser esse tempo. Deve ser algo que eu não
explico. A dor bem poderia já ter voltado, mas permanece tudo tão quieto.
Permaneceu em paz o horizonte, então tudo permanecerá. Sim, permanecerá. Mas
existe algo eterno de fato? Não quero explicações a esta hora do dia, embora
seja segunda-feira. Embora seja irrequieto o mundo neste dia, clara como a luz
do meio dia é a certeza do contentamento algum dia na vida. Não seria para
alguém? Talvez sim. Acho que estou me deixando levar pela irracionalidade.
Mas... fazer o quê? Decerto, no mundo, não há nada tão certo mesmo quanto dois
mais dois, categoricamente, tem que ser quatro. O mundo é cheio de
contradições, amigo Pensamento Divagante. O mundo não é mais real ou mais sisudo,
é mais alguma coisa só se tomarmos por certa a concepção da maioria. Nada
precisa ser como é ditado pela turba ensandecida. Nada precisa ser nada do
jeito que é. Nada o é, de fato. Tudo não passa de uma ilusão. Estamos fadados à
ilusão. E ainda pensamos se tratar de realidade!... Veja que absurdo! Mas as
ideias já começam a se desfragmentar. É hora de parar. É pena parar. Paro agora
e olho lá fora: o mundo já começa a ficar chato. Não sei por que a realidade
tem que ser a da maioria não-sonhadora. E a lei também. Deixa-me parar. O campo
da revolta é escorregadio. O campo do sonho irá retornar qualquer dia desses.
Tchau, Pensamento Divagante. Posso te ver de novo qualquer dia? Diz-me, então,
tu, ó Pensamento: “Quando menos esperares. Então... não espere... viva!”
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