segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Crises Existenciais – Felipe Amaral - 5 Sonetos

Crises Existenciais – Felipe Amaral
1
Tudo faço na vida para ver
Crescimento e não vejo o incentivo
Que preciso. O que vejo é só motivo
De lamento, tristeza e desprazer.

Sou artista, o que faço é descrever
O que sinto e cantar, pelo atrativo
De aprazer quem me escuta, e dar avivo
Ao melhor que se possa promover.

Mas só vejo desprezo à minha arte.
Só encontro repulsa em toda parte.
Só diviso agressivas aversões.

O meu mundo ruiu em vitupério.
O meu plano de vida é deletério.
E o meu ser já sucumbe às aflições.
2
Tola gente que passa e não escuta
Os chamados do acerto e da razão.
Tola gente que vive em disfunção,
Mas insiste em teimar que o bem desfruta.

Não há certo, e o errado de conduta
Vê-se bem e triunfa na “missão”
De buscar promover tudo o que é vão
E sem préstimo algum, sem ver disputa.

O que tenho a fazer é pôr alguma
Instrução – frente à negra e espessa bruma –
Na cabeça do povo que me vê.

Só que tudo o que faço é desprezado.
O correto tornou-se o que é errado.
E o alerta de “Pare! ninguém lê”.
3
Penso em ir para longe, mas contenho
À vontade e, tristonho, permaneço
Neste chão, a tentar gerar apreço
Ao que é bom neste povo a que me atenho.

Mas só bebo arrogância, se me empenho;
Mas só sorvo desprezo, se ofereço
O que é digno de glória. E arrefeço
Ante o mal e em quebranto me mantenho.

Não encontro incentivo para o bem
Que promovo. E lamento que ninguém
Vise alguma mudança: e a dor piora.

O meu ser não agüenta ver tamanho
Menosprezo e sucumbe ante este estranho
Ambiente que o frívolo incorpora.
4
A mudança de mente é desprezada
Pelos tolos que passam pela rua.
A vaidade é um ídolo e tem sua
Honra bem promovida e resguardada.

O que o povo deseja é ver-se, a cada
Dia, cheio de si. E o mal atua
Fabricando uma gente que acentua
O orgulho e a humildade só degrada.

Idolatram seus bens. Cultuam tudo
Que conseguem. E vivem nesse agudo
Enchimento de ego chulo e vil.

Tudo fazem por meio de conchavos.
O que fazem é torpe e gera agravos
No já fraco caráter do Brasil.
5
Não suporto ver tanta indiferença
Para com o correto e salutar.
Não suporto o descaso do lugar
Com o bem da justiça que compensa.

Os injustos triunfam sem sentença.
Os honestos são mortos por vulgar
Ser que fere a eqüidade e faz passar
O cruel por fiel, sem ver ofensa.

A cultura degrada-se no lodo
Da torpeza de um povo sem denodo
Para com a defesa do que é justo.

O negrume do mal já toma o todo.
O bem sofre do mesmo o vil apodo
E ninguém toma o mais ínfimo susto.



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