domingo, 5 de maio de 2013

Umas quadras e uma décima

Umas quadras e uma décima

Ser poeta é ser mais brando,
Sonhando um sonho estupendo:
Viver na vida sonhando
Sonhar na vida vivendo.


Pra o trovador de verdade,
Na sua mente, eu suponho,
Que o sonho é realidade
E a realidade, um sonho.


Todo o vate é visionário
E, por isso, é natural
Ter seu mundo imaginário
Como o seu mundo real.


Muitas vezes é normal
O bardo ter a’ impressão
Que a ficção é real
E o real é ficção.


Pra o poeta a ilusão
Ao fato é bem similar,
Que, pra ele, estar no chão,
É como no céu estar.


Poeta é, sem protocolo,
Envolto de estranho véu:
Se mantém os pés no solo,
Mas tem a mente no céu.

O vate, na qualidade
De alguém que o seu dom venera,
“Dispõe da” veracidade
Pra “se dispor” à quimera.


Todo segrel, por vontade
De divagar* sem receio,
Desmente a pura verdade
Pra’ afirmar seu devaneio.
*não é devagar é “divagar:
digredir, dispersar-se, sonhar,
fantasiar”.

O menestrel se motiva
E, numa troca total,
Faz a razão emotiva
E a emoção racional.


Bardo vê no feio o belo;
Acha no cheio um vazio;
Na desunião, um elo;
E no’ insulto, um elogio.


Vate vê no choro um riso;
No desvario, sensatez;
Na maluquice, bom siso;
Na’ inquietação, placidez.


Segrel, no nada, acha um tudo;
Na’ incerteza, uma certeza;
Na’ insegurança, um escudo;
E robustez na fraqueza.



De tudo o que se acha ouvido,
O certo é que a poesia
Dá ao vate a ousadia
De dar à vida um sentido.
Faz o porvir mais garrido
E o presente menos vão.
Do passado, uma razão
Pra recordar e sorrir,
Que o riso é o elixir
Da força da’ inspiração!



Poeta Felipe Amaral

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