domingo, 5 de maio de 2013

Segregação Cultural

Segregação Cultural
 Por Felipe Amaral


         Assisto à tv e consigo divisar tanta trivialidade que me abismo com o fato de a sociedade ainda tolerar o uso de concessões públicas para tal. Tirando certos programas até, digamos, “tragáveis”, o que sobra são porcarias de toda natureza, menos da correta.
         Dizer que tudo se resume a gosto e que gosto não se discute é simplificar muito o problema. Quando o gosto é imposto pela ditadura do reprovável e, por isso mesmo, resulta numa perpetuação de aprovação do impositor, o que, por sua vez, gera uma possibilidade de mais “imposição de gosto” (que, na verdade, não é livre gosto), dando tudo em um círculo vicioso, as mentes atentas sofrem, mas, sendo minoria, ficam à mercê de tal escabrosidade.
         Há prêmios por “exposições ao ridículo” e os galardoados ainda se acham por privilegiados. Mídias esforçam-se para passar essa realidade plastificada para as casas. São sons, imagens, textos, “atmosferas manufaturadas” que ocasionam anomalias vivenciais.
         O Youtube no Brasil dá “IBOPE” astronomicamente meteórico às vãs inclinações dos mortais. Não que a liberdade devesse ser cerceada. Ninguém aqui disse isso! A educação poderia minorar a profusão de aberrações do entretenimento.
         Certo dia, assistindo a um programa de entrevistas, deparei-me com um indivíduo que poderia ser tudo, menos um referencial artístico no país, mas, não só a entrevistadora, como toda a nação o tinha por tal. Coisa lamentável! Como eu disse: As mentes atentas sofrem...
         Dinheiro gasto com tudo de ruim: O governo apóia; a população sorri!... Eu não, mas quem estaria preocupado com o que um teclador pensa?!
         Não bastando disparidades tais, ainda se vêem complôs em cantos e cantos do nosso imenso chão. Patotas elitizadas que monopolizam a atividade cultural e, decorrente disso, trabalham como censores “a la” DOI-COD (não com tanta violência física, mas não com menor violência verbal).
         Você é um pintor (de óleos) e não galga reconhecimento simplesmente por que o local onde você está inserido não tem capacidade intelectual para entender o que faz. Isso é a expressa marca dos interiores! O que é “esquisito” ou “rebuscado demais” é deixado às traças. Reconhecimento terão os que “se aventuram” pelas estradas da mesmice. O leitor acha isso justo? Eu “acreditaria” que não.
         A coisa está tão arraigada que, quando se fala de opressão desse tipo, muitos só viram a cabeça para o lado e ouvem tudo como se fosse só mais um “puxamento de assunto sem importância”. E segue o reconhecimento na mão dos fracos. Não quero dizer que é sempre assim, mas muito assim (nem todos são fracos, mas para muitos o nome “fraco” ser-lhes-ia, ou, no mínimo, deveria ser, tido como um elogio... e grande elogio).
         O negócio é, baba o ovo de um magnata e terás prestígio. Isso não é novo. Nem a segregação é nova. Nada é novo mesmo! O ser humano inclinou-se em várias épocas a essas formas de viver (mal viver, não bem viver).
         Pelo menos no Brasil, o uso do dinheiro público, e bem público de qualquer tipo, não é fiscalizado como deveria ser. Os oligarcas ainda comandam. Plutocratas florescem como capim nas frestas do reboco das construções públicas. Parece que nada vai mudar.
         Fico eu aqui a teclar e esperar que alguém leia o que escrevo. E nada de ser tão (tão mesmo!) sincero, que é para não assustar o que a isso se aventura. Não queremos perder leitores sem nem antes mesmo termo-nos ganho!
         Fica a dica. Que os ditos “rebuscados” ou “esquisitos” possam ter um lugar para, quem sabe um dia, poderem angariar um reconhecimentozinho da vasta populaça, que, cá para nós, precisa e muito ser exposta a “rebuscamentos” e “esquisitices”.

Valeu!

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