Segregação Cultural
Por
Felipe Amaral
Assisto à tv e consigo divisar tanta
trivialidade que me abismo com o fato de a sociedade ainda tolerar o uso de
concessões públicas para tal. Tirando certos programas até, digamos,
“tragáveis”, o que sobra são porcarias de toda natureza, menos da correta.
Dizer que tudo se resume a gosto e que
gosto não se discute é simplificar muito o problema. Quando o gosto é imposto
pela ditadura do reprovável e, por isso mesmo, resulta numa perpetuação de
aprovação do impositor, o que, por sua vez, gera uma possibilidade de mais
“imposição de gosto” (que, na verdade, não é livre gosto), dando tudo em um
círculo vicioso, as mentes atentas sofrem, mas, sendo minoria, ficam à mercê de
tal escabrosidade.
Há prêmios por “exposições ao ridículo”
e os galardoados ainda se acham por privilegiados. Mídias esforçam-se para
passar essa realidade plastificada para as casas. São sons, imagens, textos,
“atmosferas manufaturadas” que ocasionam anomalias vivenciais.
O Youtube no Brasil dá “IBOPE”
astronomicamente meteórico às vãs inclinações dos mortais. Não que a liberdade
devesse ser cerceada. Ninguém aqui disse isso! A educação poderia minorar a profusão
de aberrações do entretenimento.
Certo dia, assistindo a um programa de
entrevistas, deparei-me com um indivíduo que poderia ser tudo, menos um
referencial artístico no país, mas, não só a entrevistadora, como toda a nação
o tinha por tal. Coisa lamentável! Como eu disse: As mentes atentas sofrem...
Dinheiro gasto com tudo de ruim: O
governo apóia; a população sorri!... Eu não, mas quem estaria preocupado com o
que um teclador pensa?!
Não bastando disparidades tais, ainda
se vêem complôs em cantos e cantos do nosso imenso chão. Patotas elitizadas que
monopolizam a atividade cultural e, decorrente disso, trabalham como censores
“a la” DOI-COD (não com tanta violência física, mas não com menor violência
verbal).
Você é um pintor (de óleos) e não galga
reconhecimento simplesmente por que o local onde você está inserido não tem
capacidade intelectual para entender o que faz. Isso é a expressa marca dos
interiores! O que é “esquisito” ou “rebuscado demais” é deixado às traças.
Reconhecimento terão os que “se aventuram” pelas estradas da mesmice. O leitor
acha isso justo? Eu “acreditaria” que não.
A coisa está tão arraigada que, quando
se fala de opressão desse tipo, muitos só viram a cabeça para o lado e ouvem
tudo como se fosse só mais um “puxamento de assunto sem importância”. E segue o
reconhecimento na mão dos fracos. Não quero dizer que é sempre assim, mas muito
assim (nem todos são fracos, mas para muitos o nome “fraco” ser-lhes-ia, ou, no
mínimo, deveria ser, tido como um elogio... e grande elogio).
O negócio é, baba o ovo de um magnata e
terás prestígio. Isso não é novo. Nem a segregação é nova. Nada é novo mesmo! O
ser humano inclinou-se em várias épocas a essas formas de viver (mal viver, não
bem viver).
Pelo menos no Brasil, o uso do dinheiro
público, e bem público de qualquer tipo, não é fiscalizado como deveria ser. Os
oligarcas ainda comandam. Plutocratas florescem como capim nas frestas do
reboco das construções públicas. Parece que nada vai mudar.
Fico eu aqui a teclar e esperar que
alguém leia o que escrevo. E nada de ser tão (tão mesmo!) sincero, que é para
não assustar o que a isso se aventura. Não queremos perder leitores sem nem
antes mesmo termo-nos ganho!
Fica a dica. Que os ditos “rebuscados”
ou “esquisitos” possam ter um lugar para, quem sabe um dia, poderem angariar um
reconhecimentozinho da vasta populaça, que, cá para nós, precisa e muito ser
exposta a “rebuscamentos” e “esquisitices”.
Valeu!
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