quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Minha Epopéia Urbana - Parte do Canto I - Dísticos em Versos "Dodecas"

A Minha Epopéia Urbana

Dois mil e dez, era janeiro, ainda em férias,
Eu caminhava, gestos graves, frases sérias.

A me escutar, o amigo Orlando, sempre atento.
O ar da praia, à noite, em uivos. Frio o vento.

Em tom sincero, eu lhe falava sobre anseios
Que acalentava, os olhos plenos de receios.

Era o porvir que tinha em mente aquele instante.
Um fevereiro que seria extenuante.

A conclusão do ensino médio, nem “de perto”
Seria tão angustiante. Isso era certo!

Aos dezessete, já formado, eu não tirava
Do pensamento essa impressão que me assolava.

Muito ansioso, eu aguardava, na verdade,
O iniciar das aulas da’ universidade.

Porém não eram só as aulas o porquê
Desse meu mal, mas algo tal que não se vê.

Há muito já enamorado eu me encontrara.
Sim, desde a quinta série assim me deparara.

Chamavam Liz a doce amada dos meus olhos.
E eu nem ousava dizê-lo alto. Havia abrolhos.

Barreiras mil nos separavam um do outro.
Queria ousar, mas via azar num dia e noutro.

Que, no colégio, a sua turma discrepava
Demais da minha e isso aí me intimidava.

Sua beleza. Até seu jeito. O seu olhar.
Onde ficava. Aonde ia pra lanchar.

Tudo passava, pra mim só a impressão
De uma impotência, frente atroz indecisão.

Mas, “na real”, o que haveria de fazer?
Passaram-se anos, e eu não quis mais nem querer.

Porém o fato é que a vontade não me quis
Deixar em paz e eu nunca mais me vi feliz.

A gente ri, porém, no mais, se vê propenso
Sempre a buscar por algo mais, aflito e tenso.

Queria vê-la por qualquer razão dizer
Meu nome aos gritos. Querendo algo resolver.

Fosse um problema com as aulas de inglês.
Fosse o que fosse. Em algum dia de algum mês.

Fui sempre tão atarefado, mas devoto
Das letras, pois nunca me fiz delas remoto.

E, embora tudo tenha feito pra crescer
Nelas, lauréis por isso nunca pude ter.

“Sã, eu preciso que passemos um momento
A sós pra virmos a juntar conhecimento”.

Ou: “Sã, eu quero que você marque algum dia
Pra estudarmos lá na sua moradia”.

Isso seria pra mim mais do que um Nobel.
Que a companhia da Liz é mais que um laurel.

Todavia algo assim jamais veio a se dar.
Passaram-se anos, mas o amor não quis passar.

Estava, então, eu a falar naquela praia
Co’o bom Orlando. Longe o apupo, a troça, a vaia.

- Eu sei decerto o que persegue a tua vida.
Essa paixão que faz tua alva alma aturdida.

Lembro que disse ser verdade tudo aquilo.
Não poderia me furtar. Não fiz sigilo.

- Eu só lamento por mim mesmo ser verdade
Tudo o que dizes, que esse mal meu peito invade.

Chamei de mal o que, afinal, mal me causara
E me causava. Mas por bem já reputara.

Fomos os dois dali à casa do seu tio,
Que recebeu nossa visita “luzidio”. (radiante)

E, “por lá mesmo”, Orlando e eu nos arrumamos.
E, pronto, o trio fez partida sem reclamos.

O certo é que eu há muito tempo já andava
Lá pela casa desse, que viúvo estava.

Tio do Orlando, não negava um aposento
Aos seus amigos, que o prezavam “cem por cento”.

Ali havia algumas roupas do Orlando.
E umas trouxera lá de casa e fui deixando...

Partimos nós para uma festa que haveria
Na casa de um amigo nosso aquele dia...

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