sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

*Manifesto Contra a "Autopromoção Velada" por RF Amaral


*Manifesto Contra a "Autopromoção Velada"
por RF Amaral
Poderia estar vivendo outra vida. Ter mais conhecimento. Ser maior. Ser melhor. Não consegui nada. O futuro já me espreita. A cobrança é demais. Os desgastes psicológicos que me oprimem dia após dia. Eu tenho que ler e estudar uma coisa que eu não gosto. Tenho que buscar o que eu não quero. Não estou à procura de nada! Estou querendo crescer, não me oprimir. O mundo é cego, surdo, louco. Ninguém vê que o fim é a morte por estafa. Repouso não há. Eu estou cansado de ter que atender às expectativas. Só quero ter paz. Ficar calado. Sem disputas. Mas você tem que disputar com todo o mundo pra ver se consegue alguma atenção. Mas eu nem quero atenção. Eu quero silêncio. Não adianta gritar, sempre vai estar lá a cobrança, dizendo: "Faça mal ao seu corpo!" Eu não quero morrer estafado. Não consigo decorar esses montes de conceitos que me obrigam a ter que aprender. Eu quero escrever. Repousar num travesseiro e escrever. E isso não é preguiça, isso é arte. O imbecil pensa que só o que ele faz é digno de salário. O imbecil pensa que somos todos iguais. O imbecil oprime a si mesmo e não se contenta com a opressão do seu corpo só. Não! Ele quer ver os outros assim como ele está. Mas ele tenta rir pra mostrar que o que faz é bom pra si. Ele tenta viver de aparência. Talvez o próximo salário dele não dê pra quitar tantas dívidas, fruto do seu esforço de soberba. Eu não quero ser assim. O mundo me obriga a dizer que isso é bom. O mundo me diz que, se eu não for assim, eu não poderei nem comer. Tá bom! Alguém dirá que eu estou fazendo tempestade em copo d'água. Certo! Mas quem disse/diz o que nós devemos ser? Desde que não haja mal moral, o que tenho que seguir sempre estará à minha frente. Não há condição de eu saber nada mais do que já sei. E, se eu não sei, quem sabe? Talvez o que diz que sabe, só esteja em um surto de esquizofrenia. A fantasia é a autodefesa do irracional. Sou um ser pensante. E acabar com o corpo não é ser pensante. Sensato não seria maltratar o próprio corpo nunca! Na verdade, estaríamos comendo pra quê? Quando comemos, fazemo-lo pra termos força física, ânimo. Mas, muitas vezes, o mundo usa o vigor contra o portador do vigor: ele mesmo. É uma desgraça. Eu quero sorrir. E sorrir não é viver de inquietação. Aonde quer que eu vou eu encontro competição. O carinha que trabalha no supermercado é oprimido pelo dono, mas ele mesmo já oprime o novato que chegou há pouco. Na escola, o mesmo. Na turma da praça, o mesmo. No boteco, o mesmo. Na igreja, o mesmo. Será que ninguém sabe viver sem querer "ser alguém" não?! É o famoso "Lute pra você ser alguém na vida". Mas quem disse que o mendigo não é, ó mundo estúpido e materialista?! Só quando eu não sou humano é que eu sou alguém. Tenho que ostentar. Isso sim é ser alguém. "Lute pra ser alguém na vida" pode ser cambiado por "Lute pra ganhar muito dinheiro e ter os outros aos seus pés e nunca esqueça de fazê-los lembrar o quanto você 'é alguém': ostente!" Essa é a miséria da vida. Eu não preciso de reconhecimento, eu preciso só de sustento, mas pra ter sustento eu preciso que alguém me reconheça como capaz de fazer algo pra conseguir sustento (meus currículos espalhados pelo comércio que o digam! Eles imploram por trabalho que eu, na verdade, não almejo). A desgraça da vida! Até quando você ostenta currículos você ostenta sua sujeição a esse sistema de coisas. Eu quero só ficar "calado", mas o mundo não me deixa, pois se eu não "falar" eu não conseguirei alimento. Não que eu queira vegetar. Você sabe do que eu estou falando. Eu quero poder descansar sem ser incomodado pelo desejo das outras pessoas que desejam que eu venha a desejar o que elas desejam. Eu não quero desejar. Eu quero só viver. Pode me deixar só viver? Mas não adianta. Preciso me formar nisso, porque isso não está à disposição. Tenho que ler isso, porque aquilo não dá dinheiro (ou a conjuntura das circunstâncias impostas fez que não desse!). Tenho que aquilo e aquilo outro. Tenho, tenho, tenho, tenho... e tenho! Nada é: "Estás fazendo isso. Que bom! Faça o que você quiser, mas guarde-se de macular os outros! Claro que terás o que comer! Aqui não há circunstância imposta. Vamos nos ajudar. Há espaço pra todos! Há ferreiros, pedreiros, poetas, professores, cantores, marceneiros, chaveiros, pintores e o que mais tenha que 'existir naturalmente' e todos têm direitos de serem o que são". Ah, o mundo não é assim. Tudo é uma grande imposição. Mas quem disse que tem que ser assim? Nada precisa ser do jeito que é. Tudo pode mudar. Temos escolha. O triste é que só escolhemos ir pelo caminho mais pedregoso. Isso por que parece que esse caminho é o que traz mais glória (verta "glória" por "autopromoção velada"). Mas querer se mostrar não é coisa boa. Isso tanto faz que você tenha que atender todas as expectativas que você mesmo erige sobre si como que todos tenham que optar por esse tipo de autoflagelação (posto que a mairia já está atolada até o pescoço mesmo!). Ainda é tempo de mudar. Eu quero mudança. Mas não é possível que só eu pense assim. E, se for - perdoe-me - mas acho que esse será meu único orgulho. Mundo imbecil! Mundo desgraçado! Eu quero gritar e nem posso fazer isso. Chamariam-me de louco. Mas o mundo está errado. Isso é a verdade, queiram ou não ouvir. Posso ser só, mas sou só certo. Não me curvo. Nunca me curvarei. Posso estar estudando o que não quero para continuar a falar contra o que não quero, mas sou genuíno e vou continuar sendo, embora discordem de mim quanto a isso. Preciso sobreviver, mas vou sobreviver lutando contra essa filosofia satânica do "preciso sobreviver". Vou sim. E não me importo com o que dizem/disserem. Vão todos à merda. Estão errados. Não os redimirei desse mal. Os poetas também pensam. Os cantores também argumentam. Violonistas também escrevem. Qual a de vocês? Irão morrer logo, logo. Um dia a mais, um dia a menos, qual a diferença pra quem já não vivia mesmo? Mais cedo ou mais tarde a morte chegará. Estão só apressando-a. Estão loucos. Todos! Babacas! Idiotas! Pra que vocês querem viver? "Pra ostentar" vocês dizem. São imbecis. Acéfalos! Descerebrados inúteis! Eu sei como vocês oprimem seus criados. Eu sei como vocês são diante dos menos abastados ou menos informados. Mas vocês nem são tão ricos quanto pensam nem tão inteligentes quanto tentam demonstrar ser. São pobres de genuinidade e faltos de racionalidade. Vocês não são nada! Iludem-se em festas regadas a um falerno de orgulho bobo e autodestrutivo. Vocês me envergonham. Eu só quero descansar, mas não posso diante do vezerio de vocês. Diante das buzinas dos vossos carros. Diante do barulho de vossas músicas imorais. Não posso dormir com um zumbido de moscas-varejeiras rondando a minha casa. Tudo o que vocês fazem é errado. Não cuidam do bem. Veneram o mal. Amantes do dinheiro, esse que vos oprime. Imbecis. Tolos de toda espécie. Vós sois a vergonha da criação. Não tenho tempo para zelar pela paz enquanto perco tempo na produção escravocrata de vossas mercearias. Tenho que comer. Ó Deus, tenho que comer! Ó Deus, eu queria poder comer sem ser incomodado pela ideia que como pra animar minha pobre carcaça que, à frente, será oprimida por imbecis. Escravocratas! Ditadores vis! Não tenho forças nem pra chorar. "Tudo é vaidade!" - já disse o grande filósofo. É sim! É "correr atrás do vento".

Ps.: Ainda que o chamem de "autopromoção patente"...

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