terça-feira, 2 de setembro de 2014

Embola-cordel (linguagem mista, ora popular, ora culta) - RF Amaral

Embola-cordel (linguagem mista, ora popular, ora culta)

Refrão (2x):
Canoeiro no mar,
Canoeiro no mar
Navega contra a maré
(e) Não deixa a barca afundar.
1
Começo com muita fé.
Meu repente é deste jeito.
Trato todos com respeito,
Pra o povo me respeitar.
2
Levando de eito e eito,
Parto co'a rima pegada,
Que eu nasci na embolada
E me criei pra cantar.
3
A minha rima acionada
Me ajuda nesta labuta.
Só entro numa disputa
Se eu tiver como ganhar.
4
Também não entro na luta
Pra não vencer a batalha.
Matuto da tua igualha
Não pode me afugentar.
5
Você, cantando, atrapalha
Quem verseja de verdade.
Tu não tem dignidade
Pra querer me enfrentar.
6
A tua capacidade
Não me assusta nenhum pouco.
Você vai terminar rouco,
Mas não vai me superar.
7
Tu tás ficando “é” tarouco.
Sujeito lelé da cuca.
Meu verso ninguém retruca,
Pra, no fim, não apanhar.
8
Tua cantiga é maluca.
Você não tem paradeiro.
Venda logo este pandeiro
E vá trabalhar em bar.
9
No verso eu sou sorrateiro.
Ninguém cisca em minha rinha,
Quanto mais esta “murrinha”
Que teima em vir me abusar.
10
Pensei que juízo tinha
Este moleque buchudo,
Mas ele é doido “de tudo”
Pra querer me atanazar.
11
Meu talento é meu escudo;
Minha rima é minha espada;
E a minha mente inspirada
É'o que me faz triunfar.
12
A tua estrofe é errada.
Tua fala é sem proveito,
Que cantador do teu jeito
Não há quem queira escutar.
13
No improviso eu me deleito,
Que eu tenho mais instrução.
A minha improvisação
Sempre será singular.
14
Endoidou o cabeção.
Não sabe o que tá dizendo.
Todo mundo aqui tá vendo
Que tu não sabe cantar.
15
Meu repente é estupendo.
A minha força é tremenda.
Peço que você entenda
Que não é bom me afrontar.
16
Não há quem te compreenda.
Seu linguajar é sem força
E, por mais que se contorça,
Não vai poder me ganhar.
17
Ainda que o mundo torça
Pra você sair na frente,
Eu vou fazer diferente
Pra você me respeitar.
18
Em meio a toda esta gente,
Quero te deixar bem claro
Que você não tem preparo
Pra conseguir me ganhar.
19
No meu repente eu disparo.
Na minha rima acelero.
Ouvir você eu não quero,
Nem tolero seu cantar.
20
Eu também não te tolero,
Mas hoje abri exceção
Par te dar uma lição
E o povo poder olhar.
21
A tua disposição
De verso é fraca e fajuta.
O povo só te reputa
Por trapaceiro e vulgar.
22
Eu sei da tua conduta.
Conheço o teu proceder.
E o povo que vem te ver
Pode isso certificar.
23
Vai apanhar, quer bater;
Vai perder, mas quer ter ganho.
De cabra ruim não apanho
Na hora de improvisar.
24
“Seu” zombeteiro e tacanho,
Não me venha com afronta,
Que, quando eu fechar a conta,
Tu não vai poder pagar.
25
Lá vem esta besta tonta
Me querendo fazer medo.
Se eu revelar teu segredo,
O povo aqui vai zombar.
26
Não temo o mal do degredo.
Por cima de mim não passa
Com zombaria e trapaça,
Que eu nasci pra triunfar.
27
Tu, ou “tomasse” cachaça
Ou “ingerisse” outra droga,
Porque, quando dialoga,
Não dá pra se decifrar.
28
Você, que tudo prorroga,
É que não canta direito.
Em tudo se vê defeito
No som do teu linguajar.
29
Te lanço no parapeito.
Te humilho em meio à platéia.
Se esta aqui foi tua estréia,
Já tá hora de parar.
30
Venço em qualquer assembléia.
Não temo teu desafio.
Mesmo o clima estando frio,
Teu couro vai esquentar.
31
Este moleque arredio
Pensa em me pôr a perigo.
Vou preparar teu jazigo.
Na cova eu vou te jogar.
32
Só tô cantando contigo
Porque sobejo em bondade.
Mas não vou ter piedade
Daqui até terminar.
33
Pois bote velocidade,
Que o seu repente é maneiro.
O meu verso é mais ligeiro,
Tu não pode acompanhar.
34
Tu tás perdendo o roteiro.
Não sabe o que tá dizendo.
Ninguém mais tá entendendo
O que você quer falar.
35
Vou fazer um referendo
Pra botar em votação
Esta tua atuação,
Mas ninguém vai te aprovar.
36
Ao tomar a decisão
De me enfrentar no improviso,
Mostrou que não tem juízo,
Este sujeito vulgar.
37
Você que tá indeciso.
Não sabe se vai ou fica.
Eu vou te dar uma dica:
Corra pra não apanhar.
38
O que diz, ninguém explica.
Tudo o que fala é perdido.
Teu discurso é sem sentido,
Nem faz sentido escutar.
39
Tu gosta é de mau partido.
Tronchura e picaretagem.
Você não vai ter vantagem,
Aqui, pra trapacear.
40
Quando eu olho a tua imagem,
Eu te vejo e não enxergo...
Sempre firme, eu não envergo,
Mas você quis arregar.
41
Noutro lugar não me albergo.
Vim aqui para vencer.
Não mudo. Não vou correr.
Pode ir, que eu vou te poupar.
42
Não sou de me arrepender
Do que faço e do que digo.
Hoje, vai ser teu castigo,
Que é pra você se ajeitar.
43
Quem te escuta como amigo,
Transige, ao ver a loucura.
O hospício te procura.
Vai procurar teu lugar!
44
Tua fala é merda pura.
Não tem serventia mesmo.
O que canta, é tudo a esmo,
Mas eu vim te endireitar.
45
Não compro lote e nem sesmo
De gente da tua laia.
Você só vai levar vaia
Se insistir em cantar.
46
O que fala é por gandaia.
Não tem destreza no verbo,
Por isso é que me exacerbo
Ao ouvir o teu linguajar.
47
Ante ninguém me assoberbo.
De néscios quero distância.
Porém, aqui nesta estância,
Co'um néscio eu vim me topar.
48
Note aqui que a circunstância
Não está a teu favor.
Melhor parar, cantador,
Que, na batalha, tombar.
49
Esta tese do senhor
É furada e sem capricho.
Hoje eu vou lançar no lixo
Teu ditado popular.
50
Você mais parece um bicho
Daqueles que “rói” a rédea.
Quero evitar a tragédia,
Mas você quer se atolar.
51
Teu verso é uma comédia.
Teu conselho, uma piada.
Larga de mão da'embolada,
Num circo, vai trabalhar.
52
Teu repente não me agrada.
Tua voz é frouxa e ruim.
Todo fracote, no fim,
Cai pra não se levantar.
53
Eu vou dizer a que vim:
Para cantar e dar show.
Mas você nada emplacou
Até agora a cantar.
54
Meu espírito te aturou
Até agora cantando,
Mas eu já tô me abusando.
Já já irei me ausentar.
55
O povo está esperando
Você mostrar algo novo.
Do povo eu tenho o aprovo,
Mas ninguém quer te aprovar.
56
“Em tu” eu botei estrovo,
Sela, cabresto e arreio.
Querendo eu puxar teu o freio,
Você não vai escapar.
57
De você, eu só receio
Que esteja querendo açoite.
Cuidado, que eu, hoje, à noite
Vou ensinar teu lugar.
58
Quando falar, não se amoite.
Quando xingar, não se esconda.
Quando eu perguntar, responda,
Não queira se acovardar.
59
Isso só pode ser “onda”.
Outra coisa eu não suspeito.
Mas, hoje, te endireito.
Garanto aqui te aprumar.
60
Às vezes, quando me deito,
Tenho o horrendo pesadelo
Que estou fazendo um apelo
A quem insiste em errar.
61
Você só tem desmazelo,
Atropelo e desandança.
Pra sua desesperança,
Hoje eu vim te derrotar.
62
Não coloco confiança
Em soberba e ufanismo.
Eu sei do teu egoísmo,
Mas teimo em te perdoar.
63
Conheço o teu pedantismo.
Quer dar uma de herói,
No entanto, nada constrói
Na arte do improvisar.
64
Tua alma se corrói.
Teu espírito é mesquinho.
Só se vê é desalinho
No teu modo de falar.
65
Não é bom mostrar carinho
A quem não tem nem bom senso.
Eu já tô ficando é tenso
Por tanto te tolerar.
66
Sempre quando canto, venço
Cantadores renomados.
Já os fracotes – coitados -
Não dão nem pra começar.
67
Eu sei bem dos teus pecados.
Tua pecha é de devasso.
“Cometesse” um erro crasso,
Ao querer vir me afrontar.
68
Você só conta é fracasso.
Teu futuro é um engodo.
Eu tenho muito denodo,
Mas vou escolher parar.
69
É melhor descer ao lodo.
Reconheça seu espaço.
Por bem, te deixo um abraço,
Só para não te humilhar.
70
Algum caráter eu caço
“Em tu”, mas não o diviso.
Melhor cessar o improviso,
Que é pra não me rebaixar.
71
Eu é que, por ser conciso,
Vou dar adeus a você.
Quem busca algo bom, não vê
Em quem não tem pra mostrar.
72
Mesmo assim, sem fuzuê,
Perdôo a tua tolice.
Tudo isso que você disse
Jamais irá me alcançar.
73
Toda a tua parvoíce
E chocarrice eu perdôo,
Que, a ave que faz seu vôo,
Não pode ao chão se apegar.
74
Parta, então, que eu te abençôo,
Mesmo vendo a tua teima.
Pra mim é uma toleima
A quebra protocolar.
75
Vou acabar este “queima”.
Não sou de ficar com raiva.
Só queria uma saraiva
Pra em você atirar.

Refrão (2x):
Canoeiro no mar,
Canoeiro no mar
Navega contra a maré
(e) Não deixa a barca afundar.

Por: Roberto Felipe Amaral

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