segunda-feira, 5 de maio de 2014

Poema Reflexivo Inferencial da Existência de Deus

II Eclesiastes - Uma perspectiva atéia-materialista confrontada com inferências racionais do bom senso.

Por Roberto Felipe Melo Leite do Amaral
1
O que seria vantagem
Ou desvantagem num mundo
Feito de pequenas partes,
Mas sem sentido profundo?
Tudo é só algo que ocorre,
Como um ribeiro que corre,
Como uma pedra que rola.
A dor é só ocorrência
E o prazer, da mesma essência,
E, ao fim, a "vida" se evola.
2
Na verdade, o que é a vida?
É somente um movimento?
É um dom? É um poder?
Sobre ela há conhecimento?
Se o pó é tudo o que existe,
Não há porque ficar triste
Nem há "do que" se alegrar.
A vida não poderia
Existir; nem deveria:
De onde veio a emanar?
3
Por que me importar com o "erro"?
Ou o "certo" defender?
O que é ser certo ou errado?
Quem me fez isso aprender?
Culpar por quê? Quem está
Convicto e firme que há
Certeza neste universo?
Nem rir significa nada
Nem respeitar. Nada agrada
Ao inquiridor "perverso".
4
Irritar-se é buscar algo
Que agrade a opinião
Preconcebida na mente
Por pura imaginação.
- E, se a mesma, forma genética?
- Não há estética ou ética
Nem intecionalidade.
Por que indagar a pedra?
Nada nem mirra e nem medra
Na vão materialidade.
5
Prove o materialista
Por que deveria ser
O mundo tal como é?
Na verdade, o que é "dever"?
Eu não devo ser, eu sou.
Não que eu devesse ir, eu vou.
Somente faço o que faço.
Tudo somente acontece.
Não há nem ordem* nem prece.
Só "pó de estrela" e espaço.
*imposição; mandamento
6
"O mundo é tudo o que há",
Então por que sou culpável?
Por que tribunais e leis?
Nada é nocivo ou saudável!
Cultura é opinião.
Que não seja imposição
Sobre o que devo fazer.
O que devo fazer mesmo?
Não devo! Eu só sigo a esmo:
Quem vai me repreender?
7
Vive a vida! Não há regras.
Nem viver , delas, é uma.
Se não quiseres viver,
Na indiferença, ruma!
Quem vai te desafiar?
Quem pode te questionar?
Todos são "o quê", não "quem".
Somos coisas e não temos
Razão para o que fazemos:
Não há nem mal e nem bem!
8
Se dói, que tenho eu com isso?
Se não , o que responder?
És motor sem engenheiro,
Incumbência sem dever.
Não há lucro ou prejuízo,
Contra-senso nem bom siso:
O que é a perda ou o ganho?
Só há acontecimentos,
Sem maus e sem bons momentos.
Nada é comum nem estranho.
9
- Nossos estados mentais
Talvez sejam a resposta.
- Mas, se mudam, na verdade,
Toda a certeza é deposta.
- Mas como pode você
Ter certeza do que vê
Por sua contestação?
- De nada tenho certeza,
"No entanto", por gentileza,
Dê-me tal convicção*.
*Na versificação: Anaptixe ou suarabácti – Tipo de epêntese.
10
Toda a matéria é mutável.
Não há nada absoluto*.
Somos ventos passageiros
Ou mesmo, do acaso, um fruto.
Tudo vai e tudo vem
E esse tudo nada tem
"Que haja" significado*.
O rio** corre para o mar,
Mas o mar não vem se dar,
"Na vida", por saciado.
*Na métrica: anaptixe
**Leia como ditongo crescente
(a última vogal sendo reduzida),
e não como o hiato dos clássicos.
11
O que é treva e o que é luz?
Não sei nem por que pergunto.
O que é dor? O que é prazer?
Devo ou não seguir o assunto?
Do que é que estou à procura?
Por que buscar? É loucura!
Não há lugar de parada.
Melhor é ficar calado
Ou não existir no dado
Momento da vida dada.
12
Nem sei nem por que me inquieto.
Melhor é a' indiferença.
Mas, "saber o que é melhor",
É convicção* pretensa.
Calar, falar, me mover:
O que é que "devo" fazer?
E por que "devo" fazê-lo?
Nem calando, nem falando
E nem me movimentando...
Mas, então!... Como entendê-lo?
*Na escansão: suarabácti (cç)
13
O viver é impossível,
Dada a minha opinião.
Se tudo é tudo o que existe,
Mas o tudo é sem razão...
Espera aí! Dois mais dois
São quatro, então – ora pois! -
Existe alguma certeza.
Mas por que é que tem que ser?
Mas por que é que tem que ter
"Lógica" na natureza?
14
Dois mais dois bem poderia
Resultar em cinco ou seis.
Mas, se eu conto duas pedras
Mais duas, confirmo as leis.
Por simples correspondência,
Consigo obter* ciência
Pelo feito singular.
Não estou mesmo perdido!
Na "descrição" há sentido
No qual possa me firmar!
*Na métrica:suarabácti
15
Porém me vejo de novo
Sobre bases de areia.
Pois que, mesmo a "descrição
Matemática" se arqueia.
Já que a mesma necessita
De que algo exista. Ela hesita
Em responder-me "por quê?".
Vergam-se a aritmética*
E a "lógica dialética"
Quando o vão é'o que se vê.
*Na versificação: anaptixe (tm)
16
Entenda que, no princípio,
É onde está a resposta.
A mente corre atrás dele,
Sendo ele única proposta.
Tudo o que busco, só vejo
No que vejo, mas desejo
O que não vejo encontrar.
Nem a impalpável "lógica"
Serve-me por "pedagógica",
Por se me relacionar*.
*nota explicativa: relacionar-se com o já criado!
17
Ela é uma criação*
Como o é a matemática.
O intelecto as descobriu
E as designou à prática.
Claro que o ser já as tinha,
Ao menos, a que caminha
Dando-lhe** a logicidade***.
Porém as tais de algo fluem
E, só depois, contribuem,
No discernir da "verdade".
*nota de advertência: aqui não estou dizendo
nem que o homem a criou nem que outra coisa
a fez, só que, se existe, veio à tona...
**nota: o oblíquo "lhe" se refere ao "ser",
não à matemática e à lógica!
***nota: na vida, inapelavelmente, há
concordâncias básicas entre as pessoas.
Como que obrigatórias: o nazismo tem que ser laureado?
Tem que ser galardoado quem estupra e decepa a cabeça
de um bebê? Não há como que um tipo de "lógica moral"
imposta por trás disso?
18
Quem criou tudo o que há
E o mais que se relaciona
Com tudo o que foi criado:
Por que que algo veio à tona?
O vácuo é sem intenção,
Porém, a "lógica", não.
Mas ela é como que imposta!
O que ou quem a impôs?
Contradições, quem supôs?
E o que é e não é resposta?!*
*nota: é como se ninguém quisesse
ferir a lei da não-contradição!
Dizer que "tal é certo e errado" ao mesmo tempo
e no mesmo sentido. Entende?!
19
Se tudo é certo e errado,
Algo existe e não existe!
No entanto, se isso é possível,
A dúvida, então, persiste.
Não há sentido pra nada.
Vemos relativizada
A "lógica" e tudo mais.
Matemática descreve,
Porém "dever" não prescreve,
Então erros* são normais.
*nota: a palavra pluralizada"erros", aqui, como nós,
intuitivamente, entendemos no cotidiano.
20
Se eu pegasse duas pedras
E as somasse a outras duas,
Eu poderia, ao final,
Ter seis! E é bom que concluas:
Se as pedras se multiplicam,
Por mágica, se triplicam,
O que é que eu posso dizer?
Mandem criar outro mundo
Com um "sentido profundo"
Que me faça quatro ter*!
*nota: ter 4 pedras no fim da soma!
21
Só que esse mundo já foi
Criado e é este que vejo.
Talvez haja fundamentos
Que guiem nosso "desejo".
Que, ainda que eu desejasse
Algo "ilógico", encontrasse
Uma lei fundamental.
Lei essa que policia
Meu querer e pronuncia
Para mim o ideal.
22
Essa lei seria a "lógica",
Em teor mais basilar.
Pois, ainda que se criem
"Lógicas" de para em par,
Verdade é que nossa vida
Tem uma lei revestida
De sã racionalidade.
Que nos direciona à ordem.
Faz com que todos concordem
Com sua logicidade.
23
Por exemplo, por mais néscio
Que um humano possa ser,
Ele não discordaria
Do que, agora, eu vou dizer:
Se eu falo que é impossível
Um carro real, visível
Estar dentro e estar fora
De uma garagem real...
Pois é algo irracional
A lei que essa ideia explora*.
*nota: não fantasie. Se você perguntasse
a seu filho se ele fez o "dever de casa" e ele
respondesse que "fez e não fez", você, ou pensaria
que ele estaria brincando ou que ele, no mínimo,
não fora coerente na resposta. Né verdade?
24
Talvez num mundo criado,
Munido de algum poder
"Mágico", o fato citado,
Talvez pudesse ocorrer.
Mas, no mundo, como o vemos,
Todos nós bem entendemos
Que há impossibilidade.
A lei da compreensão,
Que é da não-contradição
Lhe atesta a não-validade.
25
Dizer que uma coisa existe
E não existe "é perdido"!*.
Afirmar que, ao mesmo tempo,
Como, no mesmo sentido,
Algo existe e não existe
É uma assertiva triste,
Pois que tal não se permite.
Algo ou "tá" ou não está,
Bem como, ou há ou não há,
E, em tal, se fixa um limite.
*nota: é vão, inútil, irracional,
como entendemos no cotidiano.
26
Também algo é o que é,
Só pode ou ser ou não ser.
Duas leis estão presentes
No que me pus a dizer:
A "lei da identidade",
Que assevera uma igualdade,
E a do "terceiro excluído".
Esta afirma apenas dois
Caminhos, ao que, depois,
Nega um terceiro escolhido.
27
Sabendo eu que A é A*,
Só pode ou ser ou não ser*,
E que A não é não-A*,
Tudo é possível saber.
Mas se A não for mais A;
Se será e não será;
E, ora não é, ora é,
Aí a coisa complica.
Mais nada no mundo indica
Que a razão ficou de pé.
*nota: 1º verso ou linha, lei da identidade;
2º, lei do terceiro excluído;
3º, lei da não-contradição.
28
Agora, se eu me pergunto:
Porque a* logicidade?
Acabo por encontrar
A sã racionalidade.
Fato é que, na vida prática,
Quando a mentira é enfática,
Ninguém lhe dará razão.
Pois a mesma é uma quebra
De cada lei que celebra
A pura compreensão.
*nota: não é do verbo "haver".
29
Quebrar tais leis é mentir:
Dizer que é e não é,
Ou dizer que pode* os dois,
Como enganar por má-fé.
A é A e B é B.
A não é não-A, se vê;
B não é não-B, se nota.
Estabelecendo a regra,
A própria razão se alegra
E o contra-senso desbota.
*nota: no caso aqui, é intrasitivo.
Não está concordando com a
palavra "dois".
30
E é na racionalidade
Que encontramos o pilar
Que faltava nesse quadro
Pra o raciocínio "fechar"*.
O que é a fonte da lei?
Quem ou o que, eu não sei,
Mas tenho que responder.
A' inteligibilidade
Remete-me, na verdade,
A uma espécie de ser.
*nota: fechar, aqui, com sentido
de concluir-se.



Numa perspectiva atéia-materialista, não há valor inerente que diferencie um ser unicelular, uma ameba ou uma pedra de um ser humano. Logo, matar um ser unicelular ou uma ameba, esmigalhar uma pedra ou assassinar um bebê não tem diferença.
E, outra, para os que se iludem com a idéia de que o que é bom é o que não traz prejuízo e que o ruim é o que o traz, eu digo: favorecimento ou prejuízo só podem ser entendidos como tais, tendo-se em vista algum objetivo ou propósito, mas, se a matéria não "pensa sobre" isso, por que que eu, também matéria, "deveria pensar"? As coisas só acontecem: um vírus não pensa em se é mau ou bom o que faz no nosso organismo, ele simplesmente age! O antraz também não! E aí? Por que que eu deveria fazê-lo? "Unas morrem para que outros vivam... ou morram... e daí?





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