O
boneco encapetado
1
Quando
ainda era criança
Recordo
que recebi
Da
minha mãe um presente
Que,
com carinho, a pedi.
Era
um boneco de lã
Que,
ainda àquela manhã,
Tive
em minhas mãos pequenas.
Mas
não imaginaria
Que
esse presente traria
À
minha alma duras penas.
2
Muitos
dias se passaram
Nos
quais muito me alegrei
Com
o boneco engraçado
Que,
de minha mãe, ganhei.
Nada
de estranho ocorreu
E
eu muito sorri co'o meu
Bonequinho
sorridente.
Até
que um dia me vi
Surpreso,
pois percebi
Nele
algo de diferente.
3
Às
doze horas da noite
Eu
fui andando à cozinha
Para
que, co'um copo d'água,
Saciasse
a sede minha.
Mas,
acontece, que ao ir
À
mesma, pude sentir
Que
algo vinha me seguindo.
Olhei
pra trás pra saber
Quem
era, e não pude ver
Donde
aquilo era advindo.
4
Ignorei
o que fosse
E
um copo d'água peguei.
Tomei
dele o conteúdo
E
a sede, então, saciei.
Pus
o mesmo sobre a pia
E
parti sem covardia
Para
o quarto onde eu estava.
Mas,
ao chegar ao recinto,
Senti
um temor distinto
Que,
antes, já me perturbava.
5
Deitei
na cama com medo.
Pus
o lençol sobre a face.
Só
que, ao me virar de lado,
Encontrei-me
em um impasse.
Ali
estava o boneco...
Nessa
hora deu-me um “treco”,
Ao
escutá-lo falar.
Gritou,
dando gargalhadas,
Sacudindo
as almofadas
E
eu corri para escapar.
6
Fui
me deitar co'os meus pais
Lá
na cama de casal.
Mas,
por achá-los dormindo,
Fiz
um silêncio total.
Nada
comentei, até
Poder
vê-los já de pé
Para
o café da manhã.
Fiquei
ali bem quietinho.
Dormi
ali num cantinho
Por
sobre a colcha de lã.
7
No
outro dia, bem cedo,
À
minha mãe indaguei
A
respeito do boneco
Que
dela mesma ganhei.
Perguntei
se nele havia
Pilha que o mesmo faria
Caminhar
e conversar.
Mas
ela tudo negou.
O
que muito me intrigou.
E
eu “comecei” me assustar.
8
Passei
o dia buscando
O
boneco falador.
Mas
não o pude encontrar
No
quarto ou no corredor.
Deu-me
um pavor gradual
Que,
de uma forma anormal,
Em
surtos, “se fez” crescente.
“Peguei”
a querer chorar,
Mas
resolvi controlar
O
choro em meu ambiente.
9
Saí
de casa pra ver
Se
um amigo encontraria
Que
me pudesse explicar
Tudo
o que me acontecia.
Fred,
um amigo de escola,
Que
não era de “dar bola”
Pra
coisa assim como aquela,
Topou
dormir em meu lar,
A
fim de poder filmar
O
que achava ser balela.
10
Dei
um pretexto qualquer
Pra
meus pais, na' habitação,
E
o Fred pôde dormir
Conosco
na' ocasião.
Colocou
no pedestal
A
câmera digital
E
a virou pra o corredor.
Depois
“pegou a” forrar
O
colchonete e aprontar
Com
zelo o seu cobertor.
11
Tudo
pronto, foi dormir.
E
eu fiquei observando.
“A
gente dormiu tranqüilo*”
Um
sono profundo e brando...
Todavia,
no' outro dia,
Começou
a agonia,
Pelo
fato registrado.
Que
a câmera colocada
Gravou
uma “trapalhada”,
Que
me deixou perturbado.
*tipo
de silepse
(concorda
com o sentido,
não
com a forma)
12
O
troço estava filmando,
Quando,
de repente, um bicho
“Pegou
a” se remexer
Sem
pose e sem ter capricho.
Tinha
o boneco, mas mãos
E,
entre movimentos vãos,
Palavras
vãs proferia.
Depois
surgiu outro vulto
E,
aí, virou um tumulto
Que
explicar ninguém podia.
13
Coisa
voando do chão,
O
boneco a saltitar;
Fantasma
em pé e sentado
No
sofá a relaxar;
Cachorro
e gato fantasma;
Risada
que a alma pasma;
Som
de festa e foguetão...
Só
que a gente não ouvia
Nadinha
enquanto dormia
Naquela
situação.
14
Mostramos
pra “todo mundo”
Da'
escola, mas ninguém deu
Crédito
aquele registro
Do
que, em meu lar, ocorreu.
Fomos,
então, ao meu lar
Para
tentarmos achar
O
boneco de uma vez.
No
entanto, “foi” só chegarmos
Para,
ali, nos depararmos
Com
algo sem placidez*.
*(Ou:
“Co'o maior dos fuzuês”).
15
O
boneco endiabrado
Tinha
feito de refém
O
meu pai e a minha mãe
Tratara
com vil desdém.
Telefonei
pra polícia,
Que
interpretou a notícia
Como
um trote, nada mais.
E,
aí, eu fiquei na bosta,
Mas
Fred fez-me a proposta
Que
salvaria meus pais.
16
Ele
negociaria
Co'o
boneco meliante.
Falou
da “sala de estar”
Com
o brinquedo falante...
O
danado respondeu
Que,
pelo desejo seu,
Caro
o resgate seria.
Eu
disse não me importar,
Pois
eu podia pagar
Na
hora qualquer quantia.
17
Peguei
o talão de cheques
Do
meu pai numa gaveta,
Rabisquei
uma quantia,
Ligeiro,
com a caneta.
Mostrei
pra o Fred e parei.
Ele
me disse: - Eu não sei
Se
só isso irá bastar.
Mas
quando o boneco ouviu
A
notícia, consentiu
Co'
a quantia regular.
18
Logo
me mandou sacar
No
banco o seu pagamento
E
voltar trazendo tudo
Sem
ter qualquer outro intento.
Fui
ligeiro e trouxe tudo
E
o bicho saiu sisudo
Co'
o seu lucro financeiro.
Fred
foi pra casa sua,
Lento,
andando pela rua,
Depois
eu entrei ligeiro.
19
E
um belo dia, de tarde,
Dei
de querer escutar
No
rádio o noticiário.
Veja
o que estava a passar:
-
Programa Notícia Urgente
Noticia
urgentemente
Que,
hoje, pela manhã
Foi
detido o foragido
Seqüestrador
conhecido
Como
“Boneco de Lã”.
20
“Por
ser de baixa estatura,
Se
passa por um brinquedo
E,
à noite, ilude as crianças
Com
outros pra causar medo...
Depois
lhes rouba os pertences
E,
devido aos seus suspenses,
Desacredita
os infantes
Pra
que ninguém os escute,
Depois
foge co'o desfrute
Dos
bens dos tais reclamantes”.
21
“Alertamos
que os comparsas
Desse
cruel meliante
Ainda
estão foragidos
E,
ao achá-los, não se espante.
Ligue
pra o “Nove Um Um”.
E,
qualquer coisa incomum,
Chame
a polícia ao seu lar.
Aqui
acrescentaremos
Seus
nomes, que deixaremos
Pra
o ouvinte se informar”.
22
“O
primeiro dos comparsas
É
'chamado' 'Alma Penada';
O
segundo já se chama
'Fantasminha
Camarada';
Os
outros são: 'Capiroto',
'Visagem',
'Boca de Esgoto',
'Malassombro'
e 'Aparição'.
Boca
de Esgoto é menor,
Todavia
é o pior,
Não
tente aproximação!”
Autor:
Poeta Felipe Amaral
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