terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Fingindo Sonhar – Felipe Amaral

Fingindo Sonhar – Felipe Amaral

Estou andando pelas ruas de uma cidade bem iluminada. Falo com uns amigos. Mostro um livro. Dirijo-me à biblioteca. Mas, ao pensar nisso, começo a voar. Rolo nas nuvens, que são como colchões de água. Fico pairando. Já não sinto as pernas. O corpo vai ficando para trás. Lembro um por-do-sol. Talvez, de algum passado distante. É o que dá a pensar. Corro por ruas vazias. Abro os braços. Entro em vielas estreitas e saio em outros planetas. Saio em ruas europeias. Estou no espaço sideral. As estrelas me cercam. Vou me sentindo à vontade. Relaxando... relaxando... relaxando... Um sonho acordado. Estou fraco, mas me sinto bem. A consciência, atenuada. Agora entro por uma porta feita de luz. Olho dentro e vejo livros e livros. Minhas memórias. “Subconsciente, compacte-se e cai dentro do meu consciente, como um grão de areia no vácuo infinito” - sugestiono-me. Vejo-me empurrando algo muito pesado para que caia embaixo em um galpão vazio. Mas, ao que cai, tudo parece leve. Transforma-se num pequenino grão. Ali estão todas as minhas memórias armazenadas. Vou consultar uns livros do montão enorme que há. As salas da biblioteca da mente estão repletas de livros. Tiro um e começo a ler. Não me preocupo em ver o conteúdo, no que tange ao meu consciente, pois, de alguma forma, inconscientemente, estou vendo-o. Leio-o. Absorvo aquilo que não sei bem o que é. Lembro de um livro que li. Não consigo recordar o título do mesmo. Mas não importa. Eu tenho tudo na minha mente. Eu preciso crer que tenho tudo dentro da cabeça. Posso aprender o que quiser. “Quando acordar, você poderá absorver o que quiser. Não há limites” - sugestionei-me. Tudo parece simples. A sensação de imaterialidade. Sensação de leveza. Flutuo. Flutuo. Vou para o infinito. Corro no céu noturno. Entro em outras dimensões. Posso estar pelo chão de casa e sair dentro de um imenso buraco negro. Sou um viajante. O tempo não me detém. Não há espaço definido. A mente viaja. E, agora, não dependo da atenção de ninguém. O prazer de ser só, embora veja sempre a boa necessidade de Deus batendo-me a porta do coração. Sou livre em Deus. Sou guiado à luz das constelações. Palavras que saem, saem, saem... O vento que sopra. Sou como a brisa. Sempre me conforto com a ideia de ser como a brisa ou mesmo ir com ela. Como folha ao vento. A aragem é uma ideia reconfortante. Há muito prazer em pensar sobre a brisa soprando. Dias de céu cinzento. Um passado que não ficou distante dos olhos das lembranças. A lua inspira-me. Os poemas saem com facilidade. Não há desconforto. Não há mais necessidade de esforço para nada. Tudo o que é dor se esvai. Estou livre, plenamente livre. Saí do corpo (este corpo degenerado). A alma anda. Ela encontra o vácuo. O silêncio eterno. O repousante frio eterno. Não me refiro à cova. Refiro-me ao gozo de se estar solto. Posso voar. Voo mais um pouco. Tudo é possível. Não há esforços a fazer. A luta do dia a dia passou. Não há mais flata de fôlego diante das inquietações antes tidas. Não há sofrimento. O mal se foi. Tudo é o vácuo. Não um vão sem sentido, mas um lugar de repouso constante. A mente se sente bem sozinha. Ela nem precisa cantar. Relaxa em silêncio. Há um ponte que leva ao outro lado do cosmos. Mares enormes de luz. Mergulho nas ondas. Sinto a água fria. Refrescante. Não há calor torturante. Não há sufoco. A respiração é livre. Sou feito de ar. Não há adversidades. As aflições ficaram para trás. Não há testes. Provas não há. Ninguém cobra ninguém. Não há cobrança para que o ser se torne o que se impõe. Tudo são rios. Tranquilidade. Imperturbabilidade. O céu de Deus. Não há prisões. Não há grilhões. Algemas não há. O peito se enche de ar e pode-se correr pelo infinito. Pode-se contemplar a face da paz. A verdade existe sem esforço. Não há que se provar nada. Tudo é evidente. Debates não há. Só êxito em tudo. Alegria sem fim. Pego uma estrela nas mãos. Sou gigante, sou pequeno, sou o que quero ser. Sou livre para escolher de fato. Deito-me no céu. O firmamento é frio. Não há escuridão estressante. Não há trevas malignas. Tudo é luz sem causar dor aos olhos do que a vê. Jesus sorri. Deus me guia. Sou levado como a pluma. Gozo sem fim. Paz sem fim. A vida da terra não é nada comparado a isso. Evito lembrar-me do que sentia na terra. A vida no mundo decadente é fugaz e sem propósito. Incerta. Não há lógica. Aqui a lógica flui nas veias. Tudo é certo e bom. Deus governa tudo. A calma permeia tudo aqui. O alento é infindo. Acalanto constante. Não há dor. Não há choro. Não há nada. E o nada é reconfortante. Não um nada sem sentido! Um nada preenchido da glória divina. O Criador anda sobre os céus. Estamos bem. Estou muito bem. Quero pular, gritar, cantar, correr, dar cambalhotas, mas, mesmo sem efetuar isso tudo, sinto-me como se o tivesse feito, entretanto, ainda tendo vontade de fazê-lo. Nada é findo e, ao mesmo tempo, o é. A satisfação da insatisfação que guarda em si satisfação. Não sei explicar. Nada é como na terra. O prazer não tem fim. Você não pode mensurar nada. Na terra, você não sabe nem o que sente. Você vive a esmo. Por mais puro que seja, você é um poço de dor. Doenças. Provações. Castigos. Sonhos maus. Dias maus. A vida na terra é um lamento constante. Anseia-se por Deus. Deus acalma os corações. Deus enleva a alma. A alma se liberta. Acha descanso. Acha um rio onde possa se banhar. A gente gargalha no mar do céu. Não há fingimento. Tudo é pura sinceridade. O céu. 

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